Transformações digitais da confecção têxtil em domicílio no Brasil: práticas e percursos de apropriação de um software livre para a modelagem de vestuário

• Ano de defesa: 2024
• Autor(a) principal: Restrepo González, Juan Sebastián
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa; Economia Doméstica
• Palavras-chave em Português: Trabalhadores têxteis; Máquinas têxteis - Digitalização; Software Livre; Economia Doméstica
• Link de acesso: https://locus.ufv.br/handle/123456789/32626; https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2024.376

A transformação digital da manufatura configura-se como uma realidade concreta diante da qual as pessoas e as organizações precisam construir estratégias para a gestão dos espaços de produção em diálogo com as novas tecnologias e com as mudanças no mundo do trabalho associadas a elas. Nesta pesquisa, focamos a atenção na indústria da confecção de vestuário em domicílio, onde o trabalho feminino se destaca por sua natureza individualizada, informal e por enfrentar limitações no acesso, uso e adaptação de novas tecnologias. Nosso interesse específico reside na digitalização da etapa de modelagem, dada sua importância em ampliar a participação das costureiras no processo de produção. Nesse cenário identificamos o software livre Valentina como uma tecnologia adequada para a modelagem digital, considerando suas características alinhadas às condições comuns na confecção em domicílio. A popularização desse software no Brasil teve início em 2020, com a divulgação de conteúdo em português na internet e a formação de grupos em redes sociais digitais destinados ao compartilhamento de experiências e informações sobre o seu uso. O objetivo principal desta pesquisa foi analisar as mudanças nas práticas diárias de manufatura de indivíduos que participam desses grupos. Utilizamos o conceito de “percursos de apropriação” para analisar as trajetórias percorridas pelas participantes na integração de uma nova ferramenta digital em suas confecções. A participação em grupos de redes sociais foi abordada como uma prática de apropriação tecnológica, representando uma atividade recorrente na qual as costureiras buscam aumentar seu conhecimento sobre o software e outras tecnologias relacionadas, visando integrá-las ao cotidiano da confecção. Durante um período de 14 meses, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com seis participantes de um grupo no WhatsApp. Além disso, houve uma observação sistemática da interação no aplicativo e participação em algumas atividades do grupo. A pesquisa abrangeu participantes diversificadas em termos de práticas de manufatura, estratégias de apropriação e histórico envolvendo costura. Esse enfoque permitiu a identificação de elementos cruciais que influenciam os caminhos de apropriação de cada costureira, incluindo o histórico de envolvimento com a costura, as condições socioeconômicas, o tipo de formação e os objetivos produtivos e empresariais. A participação em redes sociais como estratégia de apropriação evidencia a importância dos processos autônomos de formação e capacitação fora do ambiente escolar, ressaltando também o papel das tecnologias de informação e comunicação nesses processos. As alterações nas práticas diárias de manufatura das participantes foram analisadas em três dimensões: a processual, que revelou transformações nos procedimentos das confecções, possibilitando a oferta de novos produtos e serviços; a dimensão tecnológica que explorou as relações entre as tecnologias anteriormente utilizadas, as tecnologias em processo de apropriação e as tecnologias para a apropriação; e a dimensão relacional, na qual foi identificada a construção de colaboração entre costureiras no Brasil e internacionalmente, assim como a formação de uma imagem moderna da costureira conectada às últimas tecnologias. Palavras-chave: Apropriação Tecnológica; Confecção em Domicílio; Modelagem Digital; Software Livre.