Hábito alimentar da rã invasora Lithobates catesbeianus (Shaw, 1802) e sua relação com anuros nativos na Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Silva, Emanuel Teixeira da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Biologia e Manejo animal
Mestrado em Biologia Animal
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2235
Resumo: A rã touro norte-americana (Lithobates catesbeianus) foi introduzida em vários países para criação comercial, estabelecendo populações invasoras ao longo deste processo. No Brasil, o início de sua produção ocorreu na década de 1930, sendo hoje uma espécie invasora nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seu hábito alimentar é generalista, e por atingir grande porte na fase adulta, é um predador relevante de pequenos vertebrados, incluindo outros anfíbios anuros. Devido à predação, competição interespecífica e possível transmissão de patógenos, o estabelecimento da rã touro é apontado como uma das causas de declínios populacionais de anfíbios em regiões onde a espécie foi introduzida. Os hábitos alimentares desta espécie em condições naturais foram analisados em quatro ambientes no campus da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, e em duas propriedades rurais em Vieiras, municípios da Zona da Mata de Minas Gerais, para acessar dados sobre sua relação com anfíbios nativos. A coleta de dados ocorreu entre agosto de 2005 e março de 2007, em Viçosa, e de setembro de 2008 a abril de 2009, e setembro a novembro de 2009 em Vieiras, através de amostragens noturnas e análises de conteúdo estomacal. Na primeira parte do trabalho, foram comparados os hábitos alimentares e a distribuição espacial da rã invasora com os da espécie nativa "rã manteiga" (Leptodactylus ocellatus) em Vieiras, relacionando a ecologia alimentar com a coexistência entre as espécies. Jovens de ambas as espécies possuíram tamanhos semelhantes, enquanto que adultos da rã nativa foram menores que os adultos da rã exótica. As dietas dos jovens das duas espécies, e também dos adultos de Le. ocellatus foram dominadas por insetos em geral e aranhas, enquanto que anfíbios e baratas d'água sobressaíram na dieta de adultos da rã exótica. A rã nativa consumiu mais presas em média que a rã exótica, porém suas presas foram menores em volume. A rã invasora foi mais encontrada na água que a rã nativa, sendo que presas aquáticas e anfíbias foram mais comuns na sua dieta. A sobreposição de nicho trófico foi maior entre os pares coespecíficos, e variou de baixa a média entre as espécies, de acordo com o grupo etário comparado. As diferenças observadas na dieta e distribuição espacial podem estar colaborando para a coexistência das duas espécies na região estudada. Na segunda parte do trabalho, a predação de anfíbios nativos pela rã touro foi investigada em ambas as localidades, levando-se em conta a variação espacial e as influências da sazonalidade e da utilização de microambientes pelas espécies nativas. Entre as presas da rã touro foram encontradas espécies das famílias Bufonidae, Hylidae, Leiuperidae e Microhylidae, as quais exibiram similaridade média ou alta com a rã-touro na utilização de microambientes. A predação foi mais expressiva em um dos ambientes de Viçosa que possui a vegetação natural preservada. Nos meses quentes e chuvosos, época de reprodução da maioria das espécies nativas, a predação foi mais frequente. Desta forma, o impacto negativo que a rã touro pode exercer sobre anfíbios anuros nativos no Brasil pode ser mais expressivo entre as espécies semelhantes à rã exótica na utilização de microambientes, e durante o período reprodutivo destas espécies. O efeito da predação também pode ser maior em locais preservados, como fragmentos florestais em unidades de conservação, o que alerta para o monitoramento da dispersão e para programas de controle desta espécie em áreas naturais.