Infecção por Wolbachia no grupo saltans: um mecanismo de disseminação nos ovários do hospedeiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Pereira Filho, Hélio paulo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br//handle/123456789/29246
https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2021.190
Resumo: Wolbachia, uma Rickettsiales da classe das Alphaproteobacteria, infecta numerosas espécies dos filos Nematoda e Arthropoda. Seu sucesso é atribuído à manipulação da reprodução dos hospedeiros, causando alterações reprodutivas que aumentam o valor adaptativo dos indivíduos infectados. O mutualismo entre Wolbachia e artrópodes é um fenômeno incomum e os artrópodes raramente dependem da infecção. Apesar de se propagarem preferencialmente por transferência vertical (da mãe para a prole), há raros registros de paralelismo entre filogenias de wolbachias e hospedeiros artrópodes, indicando que a transferência horizontal (de uma espécie para a outra) é mais frequente do que se imaginava. Estudos envolvendo a interação Wolbachia-artrópodes sugerem que em alguns casos a infecção beneficia e em outros prejudica os hospedeiros. No grupo neotropical denominado Drosophila saltans, foi constatado que três espécies hospedam Wolbachia. Nas espécies crípticas Drosophila prosaltans e D. septentriosaltans (subgrupo saltans), foram encontradas cepas próximas da bactéria, enquanto uma terceira espécie, D. sturtevanti (subgrupo sturtevanti), hospeda uma cepa completamente diferente, idêntica àquela encontrada em espécies do gênero Lutsomyia (Diptera: Psychodidae), de modo que se acredita num evento recente de transmissão horizontal de Wolbachia. Este trabalho teve como objetivo investigar as consequências da infecção por Wolbachia na produção de óvulos em D. sturtevanti (linhagem St8) e D. prosaltans (linhagem Pro101), bem como descrever a estratégia de infecção em seus ovários. Os resultados sugerem que Wolbachia reduz a produção de óvulos maduros em St8 e aumenta em Pro101. Vimos também, por PCR semi-quantitativa, que em Pro101 a intensidade de infecção é maior no auge da fase reprodutiva da fêmea, quando produz mais óvulos, enquanto em St8 permanece constante, sugerindo que em Pro101 a infecção esteja mais restrita aos ovários que em St8. Os resultados com fluorescência por hibridação DNA-RNA in situ (FISH) sugerem alta incidência da bactéria no germário (parte inicial dos ovaríolos) em ambas as linhagens. Em St8, a microscopia eletrônica de transmissão (MET) mostrou, dentro dos germários, estruturas semelhantes a bacteriócitos, comumente utilizados por simbiontes para a colonização dos ovários de insetos e associados a mutualismos nutricionais, densamente ocupados por Wolbachia. Bacteriócitos têm como função proteger o hospedeiro da alta proliferação de endossimbiontes e proteger os endossimbiontes do sistema de defesa o hospedeiro. Essa dupla função garante a infecção dos ovócitos, ou seja, a passagem dos endossimbiontes para a próxima geração, favorecendo os hospedeiros nas interações mutualísticas. A cepa infectante de St8, no entanto, parece utilizar bacteriócitos para atingir as células germinativas sem oferecer qualquer benefício, uma estratégia que pode ser geral entre as Wolbachia, permitindo que invadam novas espécies de insetos. Esta estratégia, se confirmada como geral, explicaria i. a grande variedade de insetos infectados; ii. o fato de que nem todas as espécies e populações estejam infectadas, já que a bactéria pode se extinguir rapidamente das populações; iii. a raridade das interações mutualísticas e iv. a falta de paralelismo nos estudos filogenéticos. Palavras-chave: Estratégia de infecção. Drosofilídeos neotropicais. Transferência vertical e horizontal. Bacteriócito.