Uso agrícola de soro de leite: efeitos no solo, na emissão de CO 2 , na biomassa microbiana do solo e na produção vegetal

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Ferraz, Karin da Costa Ribeiro
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://locus.ufv.br//handle/123456789/28186
Resumo: Um dos resíduos da produção de lacticínios é o soro de leite, subproduto da separação de sólidos para a produção de queijos e afins. Quando não utilizado para outros fins na indústria, o soro de leite deve ter destinação ambientalmente adequada, e seu simples descarte em corpos d’água é proibido. As alternativas de tratamento deste efluente apresenta custos elevados e normalmente baixa eficiência, o que abre caminho para a busca de outras propostas. O reuso do soro de leite na fertirrigação do solo pode ser uma opção promissora do ponto de vista da nutrição vegetal e da qualidade do solo, tendo em vista sua carga orgânica e presença de nutrientes. Esta proposta também pode ser considerada ambientalmente adequada e economicamente viável. Entretanto por se tratar de um resíduo, estudos são requeridos para se avaliar as doses adequadas e os riscos associados, a fim de garantir uma boa resposta das culturas e uma adequação às normas ambientais. Como a presença de sódio é comum nos soros de leite da produção de queijos, efeitos negativos podem acontecer na qualidade física do solo. Para se tentar evitar esses efeitos, o uso de condicionadores agregantes pode ser avaliada. Uma substância que tem seu uso crescente com objetivo floculador é a poliacrilamida, designada pela sigla PAM. Embora todas as culturas possam receber o efluente, é interessante pensar naquelas de maior resistência e de sistema radicular vigoroso, como é o caso das gramíneas. Neste grupo, destacam- se as pastagens, cobertura que domina importante parte das terras no Brasil, mas em grande parte em situação de degradação. Esses ambientes demandam um bom manejo para se atingir altas produtividades, e o reuso de efluentes pode constituir em uma boa alternativa para a reposição de nutrientes no solo. O capim Tifton 85 (Cynodon spp.) é uma cultivar perene resistente, de capacidade elevada de rebrota e produção, e que pode apresentar excelente resposta com a adição do efluente. Diante de todo o exposto, o presente estudo objetivou avaliar o reuso agrícola de um efluente de soro de leite e seus efeitos sobre a produção vegetal, a qualidadedo solo, a emissão de CO 2 e a biomassa microbiana do solo. O presente estudo foi dividido em três capítulos que foram constituídos a partir de um mesmo experimento. O primeiro capítulo teve o objetivo de avaliar o efeito da adição de doses de soro de leite na presença e ausência de PAM sobre a qualidade física e química de solos. O segundo buscou-se avaliar o impacto da aplicação de soro de leite no solo sobre o fluxo de dióxido de carbono do solo e a dinâmica da biomassa microbiana do solo. E, no terceiro, o objetivo foi avaliar o desenvolvimento e os teores de nutrientes no capim Tifton 85 em resposta à aplicação de doses de soro de leite. O experimento foi montado em casa de vegetação do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa. Dois Latossolos Vermelho-Amarelos foram utilizados nos ensaios, ambos coletados na camada de 0 a 20 cm. O primeiro solo era de textura muito argilosa, e foi coletado em Viçosa – MG e, o segundo, de textura média, foi coletado em Três Marias, MG. Os solos foram dispostos em vasos e receberam adubação e correção e, após um período de incubação, foram plantadas mudas do Tifton 85. Os tratamentos foram formados pela combinação do uso ou não do PAM (um litro de solução 0,1 g/L por vaso) e cinco doses de soro de leite (0, 50, 100, 200 e 300 m3/ha). O PAM e as doses de soro foram aplicadas semanalmente. As plantas foram cultivadas por 120 dias, sendo submetidas a dois cortes intermediários aos 40 e 80 dias. No primeiro capítulo foi avaliado o efeito das doses de soro de leite e PAM na qualidade química e física do solo. Os resultados indicaram que o PA M pouco influencia as características químicas do solo. As doses de soro, por sua vez, afetaram a química e a física do solo, com destaque para a melhoria dos teores de nutrientes, sem que houvesse alteração do pH do solo, mesmo o efluente tendo natureza ácida. Na física do solo, a adição do efluente proporcionou aumento da dispersão de argila, fenômeno que foi atenuado com a aplicação combinada de PAM. O polímero também foi associado ao aumento da condutividade hidráulica do solo em meio saturado, apesar das altas concentrações de Na no soro. No segundo capítulo foi avaliado o efeito dos tratamentos sobre o fluxo de dióxido de carbono e a dinâmica da biomassa microbiana do solo. Os resultados indicaram que a adição do soro de leite aumenta o fluxo de CO 2 do solo, sendo que esse fluxo é influenciado pela textura do solo. A aplicação do efluente aumenta a atividade biológica no solo, gerando ganhos de C e N na biomassa microbiana. Os dados sugerem que a aplicação do soro de leite no solo deve considerar o seu efeito na degradação da matéria orgânica nativa dosolo, o que pode ser um problema. No terceiro e último capítulo, foram analisados o efeito dos tratamentos nos teoresde nutrientes nas folhas e raízes de Tifton 85 e produção de biomassa da forrageira. Os resultados indicam que a aplicação do efluente e do PAM não alteram a morfologia das raízes da gramínea, mas aumenta os teores de K nas raízes nos dois solos; de Ca no solo argiloso e de Na no solo arenoso. O uso de PAM não influenciou os teores de K, P, Ca, Mg e Na nas folhas, que somente são aumentados com o incremento das doses do efluente. A análise por fluorescência de raios-X indica acúmulo expressivo de K nas folhas, bem como de P e Na, além da redução do acúmulo de Ca e Si. A produção de Tifton 85 praticamente não é alterada com o uso da poliacrilamida, mas é crescente até um máximo coincidente com a dose de 200 m 3 /ha, situação que se correlaciona muito bem com o observado para os teores de N-total nas folhas. O uso do soro de leite pode ser considerado uma fonte interessante de nutrientes, com excelente potencial para a nutrição de Tifton 85, que tolerou doses altas do efluente, com incremento de nutrientes e de biomassa. A conclusão geral do estudo é pelo alto potencial do soro de leite como fonte de nutrientes para o solo, sendo que o uso do PAM é um excelente aliado para evitar problemas de ordem física, tendo em vista os altos teores de sódio do efluente. Mesmo assim, o uso do efluente no solo deve ser seguido de um programa de monitoramento da qualidade do solo, em especial, merecendo novos estudos sobre o efeito deste material de alta carga orgânica sobre a matéria orgânica nativa do solo, em função do fenômeno conhecido como efeito priming. Palavras-chave: Cynodon spp.. Tifton 85. Dispersão de Argilas. PAM. Emissão de Gases Do Solo. Qualidade do Solo. Reuso de Efluentes. Matéria Orgânica do Solo. Manejo de Pastagem. Águas Residuárias.