Um pai cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de um pai: transferências financeiras entre gerações

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Oliveira, Márcia Botelho de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Economia familiar; Estudo da família; Teoria econômica e Educação do consumidor
Mestrado em Economia Doméstica
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/3401
Resumo: O envelhecimento da população apresenta desafios à sociedade, pois influencia o consumo, a transferência de bens, o mercado de trabalho e acima de tudo a organização familiar. Diversos estudos sobre envelhecimento tratam de idosos que se tornaram dependentes, como se estes representassem um fardo para as famílias. Porém, observa-se que uma parcela significativa de idosos consegue manter não só o próprio sustento, como também amparar sua família, por meio de solidariedades funcional- afetivas e material-financeiras. A maior parte das pesquisas sobre transferências financeiras entre gerações considera apenas a percepção dos idosos, havendo uma ausência de estudos que contemplem os familiares ajudados por eles. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi analisar comparativamente a percepção dos aposentados e de seus filhos adultos quanto ao papel do idoso na economia familiar, no âmbito das transferências financeiras, bem como investigar se existe diferença de comportamento dos filhos em relação à ajuda, considerando o gênero do idoso que oferece o auxílio. A pesquisa, ancorada na abordagem quantitativa-qualitativa de natureza exploratória- descritiva, foi realizada no município de Viçosa-MG. Considerando os objetivos propostos foi selecionada uma amostra intencional de 97 aposentados, com idade igual ou superior a 60 anos, que se aposentaram nos últimos 5 anos (de janeiro de 2007 a março de 2012), que tinham ajudado financeiramente pelo menos um filho adulto e que residiam na zona urbana de Viçosa-MG. Esta amostra foi obtida dos dados cadastrais da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas da Universidade Federal de Viçosa. A amostra referente aos filhos ajudados financeiramente foi obtida por meio das informações prestadas pelos aposentados, sendo selecionados 141 indivíduos maiores de 18 anos e residentes em diversos municípios brasileiros. Foram realizados dois tipos de entrevistas semiestruturadas, sendo uma direcionada ao idoso aposentado e outra ao filho que foi ajudado financeiramente. Para os dados quantitativos foi feita uma análise estatística descritiva utilizando-se o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) Versão para Windows 17.0. Já os dados qualitativos foram tratados por meio da análise das falas com base na teoria do interacionismo simbólico e na teoria das trocas sociais. Os resultados mostraram que para os idosos e seus filhos as solidariedades eram classificadas dependendo das características de cada uma. O sustento por meio da coabitação e os gastos com educação foram definidos como obrigações dos pais, não sendo consideradas como ajudas. Já quando se tratava do reembolso, as solidariedades classificadas como ajudas eram as que ocorriam sem expectativa de retorno ou cobrança. Quando a solidariedade envolvia algum tipo de expectativa, cobrança ou necessidade de reembolso, os aposentados classificavam estas solidariedades como empréstimos. Concluiu-se, assim, que ajudas são o oposto de empréstimos, e obrigações são as ajudas que os pais não podem ou não deveriam deixar de fornecer aos filhos, pois fazem parte do papel de pais e mães. Os auxílios prestados pelos aposentados aos filhos foram bastante diversificados quanto às formas, frequências e valores, sendo que estas definições eram estabelecidas de acordo com as necessidades dos filhos e as condições financeiras dos aposentados não eram levadas em consideração, visto que nos casos em que os rendimentos provenientes da aposentadoria não eram suficientes para prestar a ajuda, os aposentados recorriam a diversas fontes como empréstimo bancários, venda de imóvel e até retorno ao mercado de trabalho para complementação da renda. A questão do gênero dos aposentados se compatibilizou com os papéis tradicionalmente desempenhados por homens e mulheres. Sendo assim as solidariedades funcional- afetivas, em sua maioria, foram oferecidas pelas mães. As mães também ofereceram mais ajudas em dinheiro do que os pais, e devido aos baixos rendimentos e a pequena inserção no mercado de trabalho após a aposentadoria, estas idosas usaram empréstimos bancários para ajudar os filhos. O reembolso também foi influenciado pelo gênero do idoso, sendo que os pais receberam mais reembolsos que as mães. Além disso, quase metade dos filhos que receberam ajuda das respectivas mães e não as reembolsaram, afirmaram que se a ajuda tivesse sido prestada pelo pai, teriam a iniciativa de ressarci- lo. Os aposentados ajudavam os filhos sem cobrar reembolso pautando-se no fator seguro-velhice, acreditando que o retorno das ajudas seria oferecido futuramente quando eles precisassem. Mas ao consultar os filhos sobre a intenção de ajudar os pais no futuro ficou claro que estes não estão tão dispostos assim como os aposentados imaginavam.