Maloclusão e traumas dentários em quatis (Nasua nasua: Linnaeus, 1766) de vida livre

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Cesário, Clarice Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Departamento de Biologia
Mestrado em Biologia Animal
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2299
Resumo: As características físicas, químicas e microbiológicas dos alimentos são os fatores predisponentes mais importantes no desenvolvimento de algumas alterações odontológicas. Avaliaram-se alterações odontológicas em três populações de quatis (Nasua nasua) de vida livre sob diferentes graus de interferência antrópica. Os quatis foram capturados e sedados com cloridrato de cetamina (100 mg/ml na dose de 15 mg/kg) e xilazina (1% na dose 1 mg/kg). Realizou-se exame físico, da cavidade oral e aferições biométricas, além de classificação etária. Os acometimentos orais de cada indivíduo foram pontuados, obtendo-se índices de intensidade (INT). As afecções encontradas foram agrupadas conforme a sua etiopatogenia em: anomalias (apinhamento, ausência dentária, giroversão e diastema) - lesões preditivas de maloclusão - e traumas (fratura, escurecimento e desgaste). No total, 49 quatis foram capturados. O impacto antrópico foi estimado pelo fluxo relativo de visitantes nos sítios de pesquisa, sendo considerado: maior no Parque das Mangabeiras (PM), moderado no Parque Nacional do Caparaó (PNC) e menor na Estação Ecológica Água Limpa (EEAL). Giroversão (89,8%) e desgaste moderado (97,9%) – graus 1 e 2 - foram comuns nos quatis de todas as populações. O índice de intensidade de anomalias foi maior na EEAL (INT A, EEAL = 12,4) e no PM (INT A, PM = 11,4). A marcada ausência dentária nos indivíduos senis da EEAL o superestimou nesta população (INT A sub, EEAL = 3,8; INT A ad, EEAL = 21). Em indivíduos de idades avançadas os ligamentos periodontais estão enfraquecidos, podendo resultar em perdas dentárias. No PM a maloclusão foi prevalente e de intensidade semelhante em quatis de todas as idades, muito provavelmente devido à herança genética. Fraturas complicadas (18,4%) – graus 2 e 3 - e desgastes severos (22,0%) – graus 3 e 4 -, bem como a intensidade dos traumas, prevaleceram nas populações da EEAL e do PNC (INT T, PNC = 29,7 e INT T, EEAL = 54,2). Este achado corrobora com a hipótese de que animais submetidos ao menor impacto humano utilizam mais intensamente os recursos alimentares disponíveis no ambiente selvagem, os quais são duros e abrasivos. As superfícies arredondadas dos dentes fraturados e os desgastes severos nos quatis de idade avançada destes locais demonstram sua adaptação para o uso intenso e continuado. Isto contraria as expectativas de que os indivíduos senis seriam encontrados no PM, já que a farta disponibilidade de recursos relacionados a humanos no local compensaria a “inaptidão” dos dentes afetados. A maloclusão foi comum, mas em condições não preocupantes, e por isso talvez não tenham causado danos diretos à saúde geral. Entretanto, não se pode dizer o mesmo em médio e longo prazo, porque elas predispõem a afecções secundárias, como a doença periodontal. Alterações traumáticas leves e moderadas também foram comuns, enquanto que as severas afetaram os quatis mais velhos e também os sob menor interferência antrópica. A ausência de anormalidades nos parâmetros físicos, os sinais de uso contínuo dos dentes e a presença de indivíduos senescentes, sugeriram que os quatis estiveram adaptados às condições de uso severo dos dentes. A disponibilidade do lixo não foi o fator responsável por esta adaptação e também não garantiu maior expectativa de vida.