Adiposidade como fator de risco para doenças cardiovasculares em adolescentes do sexo feminino

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Serrano, Hiara Miguel Stanciola
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Valor nutricional de alimentos e de dietas; Nutrição nas enfermidades agudas e crônicas não transmis
Mestrado em Ciência da Nutrição
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2693
Resumo: Com o objetivo de estudar a interferência da gordura corporal sobre os fatores de risco para as doenças cardiovasculares em adolescentes do sexo feminino, de escolas públicas de Viçosa-MG, realizou-se um estudo epidemiológico, de corte transversal controlado. Foram avaliadas 113 adolescentes, de 14 a 18 anos, selecionadas em escolas da rede pública de Viçosa-MG, tendo como critérios de inclusão pertencer a um dos seguintes grupos: grupo 1 (G1) constituído por eutróficas e com excesso de gordura corporal, grupo 2 (G2): eutróficas e com gordura corporal dentro dos limites de normalidade e grupo 3 (G3): com excesso de peso e de gordura corporal. Para esta seleção realizou-se uma triagem na própria escola, onde foi verificado o percentual de gordura corporal por meio da impedância bipedal, sendo aferidos também peso e estatura. As adolescentes que apresentaram as características dos grupos descritos receberam o termo de consentimento para que fosse assinado pelos pais ou responsáveis, sendo convidadas a comparecer ao ambulatório de nutrição da Divisão de Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), para uma nova avaliação da composição corporal através da impedância bioelétrica horizontal e uso de protocolo próprio. Nesta avaliação foram aferidos peso, estatura, circunferências da cintura e do quadril, pressão arterial e calculados o IMC e a relação cintura-quadril. A avaliação do percentual de gordura corporal e as análises bioquímicas foram realizadas após 12 horas de jejum, sendo o sangue coletado para avaliação de perfil lipídico (colesterol total, LDL, HDL, VLDL, triglicerídeos), glicemia, insulina, homocisteína, leptina e Proteína C Reativa. A resistência à insulina foi calculada através do índice HOMA. O Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA) foi aplicado individualmente, para análise qualitativa da dieta, sendo composto por alimentos habitualmente consumidos por adolescentes de Viçosa, MG. As adolescentes com excesso de gordura corporal apresentaram menarca em idades mais precoces. Elevada prevalência de sedentarismo foi encontrada (79,64%) e o grupo 1 foi o que apresentou maior porcentagem de adolescentes sedentárias (84,21%), seguido do grupo 2 (77,5%) e grupo 3 (77,14%). Identificou-se maior prevalência de doenças crônicas não transmissíveis entre os familiares das adolescentes que apresentaram excesso de gordura corporal, onde a obesidade e a hipertensão foram as alterações mais prevalentes, independente do grupo estudado. A maioria das adolescentes realizava quatro ou mais refeições diárias, não havendo diferença estatística entre os grupos. Dentre as três refeições principais, 23,89% omitiam o desjejum e 11,5% o jantar. Dentre os alimentos mais consumidos por todas as adolescentes (maior ou igual a quatro vezes na semana) destacam-se o arroz (99,09%), feijão (93,63%), pão francês (83,48%), hortaliças (76,36%), leite integral (70,88%), frutas (66,96%), balas (68,51%), achocolatado (55,34%), chicletes (53,6%), suco natural (49,05%), carne bovina (48%), margarina (46,15%), carne de frango (39,8). Por meio da análise qualitativa do consumo alimentar pode-se observar freqüência do consumo elevado dos alimentos ricos em gordura e doces. No entanto, as frutas e hortaliças encontraram-se entre os alimentos mais consumidos, onde o consumo diário foi de 66,94% e 75,45%, respectivamente, não havendo diferença significante entre os grupos estudados. Apenas 11,5% não faziam uso do leite. O consumo habitual de azeite de oliva foi de 15,9%. O consumo de banha de porco, torresmo e bacon foi baixo. Dentre os alimentos ricos em gordura observou-se consumo habitual de embutidos por 19,04% das adolescentes, chips por 15,38%, salgados por 27,35%. O hábito de consumir gordura aparente em carne bovina foi de 43,36%, suína de 30% e pele de frango de 54,86%. Quanto ao grupo dos doces destaca-se o consumo de balas, chicletes, pirulitos, chocolates e achocolatado.Verificou-se correlação negativa entre o consumo de hortaliças e pressão arterial diastólica e colesterol total, consumo de banana e colesterol total e LDL, consumo de cenoura e níveis de triglicerídeos, frango e LDL, VLDL e triglicerídeos e bala e níveis de HDL. O consumo de salgadinhos tipo chips correlacionou-se positivamente aos níveis de pressão arterial diastólica, assim como o consumo de manteiga e pressão arterial sistólica. Outras correlações positivas foram entre consumo de pão de VLDL e triglicerídeos, queijo e VLDL e suco natural e glicemia. A resistência à insulina foi detectada em 20,35% das adolescentes, havendo diferença estatística entre os grupos estudados, sendo G1>G2 e G1<G3. Os valores de HOMA apresentaram correlações significantes com as variáveis antropométricas sendo que a circunferência da cintura foi a que apresentou maior correlação. Observou-se que 3,54% das adolescentes apresentaram elevação da pressão arterial, sendo que todas possuíam excesso de peso. Os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica foram maiores nas com excesso de adiposidade e ambas apresentaram correlação positiva significante com o índice HOMA. Mais da metade das adolescentes deste estudo apresentou pelo menos uma alteração metabólica, destacando-se as alterações do perfil lipídico, que esteve alterado inclusive entre as adolescentes eutróficas. Não houve diferença estatisticamente significante, entre os grupos estudados, para valores de colesterol total, LDL, VLDL e triglicerídeos. Analisando os níveis de leptina pode-se perceber que houve diferença significante entre os grupos estudados, sendo G1 > G2 e G1 < G3. A prevalência de hiperhomocisteinemia foi de 3,54%, não havendo diferença entre os grupos estudados. A Proteína C Reativa apresentou- se alterada em 12,38% das adolescentes, não havendo diferença estatística entre os grupos estudados, no entanto as adolescentes com maior percentual de gordura corporal apresentaram valores mais elevados. Média e mediana apresentaram-se acima dos valores de referencia, apresentando mais da metade das adolescentes esta alteração. A resistência à insulina parece ser o elo entre a obesidade e alterações metabólicas. Esta relação, antes evidenciada apenas em adultos já pode ser constatada em adolescentes e com um agravante, não apenas naqueles com excesso de peso, mas também nos eutróficos, independente do percentual de gordura corporal. Desta forma é de grande importância programas de educação nutricional que objetivem a manutenção, não só de peso saudável, mas também da adiposidade dentro dos valores de normalidade a fim de se evitar o aparecimento de alterações metabólicas e clínicas durante a adolescência e complicações mais graves na vida adulta.