Fenologia de Piper gaudichaudianum Kunth e P. vicosanum Yunck. (Piperaceae) em fragmento de Floresta Atlântica, com enfoque na biologia floral de P. vicosanum

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Silva, Adriano Valentin da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Botânica estrutural; Ecologia e Sistemática
Mestrado em Botânica
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2561
Resumo: Estudos fenológicos em espécies de Piper são escassos. Essas plantas são importantes componentes de sub-bosques de florestas tropicais e possuem flores e frutos morfologicamente semelhantes entre espécies do gênero. Devido às semelhanças de habitat e morfológicas, informações fenológicas são particularmente relevantes, pois auxiliam no entendimento da manutenção da identidade taxonômica de cada espécie coocorrente, incluindo aspectos dos seus mecanismos reprodutivos. As flores de Piper apresentam sequência assincrônica no desenvolvimento dos quatro (2, 1, 1) ou seis (2, 1, 1, 2) estames. Estudos mostraram que a dicogamia é comum em flores das espécies desse gênero. Entretanto, não há informações sobre a longevidade dos estigmas e o modo de exposição de suas áreas receptivas associadas à liberação dos grãos de pólen. Foram objetivos analisar e comparar as fenofases vegetativas e reprodutivas de duas espécies coocorrentes de Piper, P. gaudichaudianum e P. vicosanum, e verificar a influência de fatores abióticos nos seus comportamentos fenológicos. Além disso, descrever a cronologia de liberação dos grãos de pólen dos quatro estames das flores de P. vicosanum, associando-a ao período de receptividade dos estigmas e ao modo de exposição de suas áreas receptivas. O estudo fenológico foi realizado de setembro/2008 a agosto/2010 em fragmento de Floresta Atlântica, em Viçosa, Minas Gerais, sudeste brasileiro. Foram avaliados, em 20 indivíduos de P. gaudichaudianum e 24 de P. vicosanum, os seguintes eventos fenológicos: emissão de rebentos (caules emitidos a partir do solo), brotação, produção e aborto de espigas, espigas com flores em pré- antese, em antese, com frutos e espigas com frutos dispersadas. Os dados foram coletados semanalmente e analisados pelo índice de atividade e, ou pela intensidade. Adicionalmente, foi verificada a sazonalidade das fenofases e sua correlação com variáveis ambientais. No estudo de biologia floral foram avaliadas a receptividade dos estigmas, com Peroxtesmo KO®, e a viabilidade dos grãos de pólen, com carmim acético. Observações em campo foram feitas, durante 46 horas, dos períodos de receptividade dos estigmas e liberação de pólen. Espigas foram ensacadas para verificar a ocorrência de autopolinização espontânea. Aspectos da biologia floral também foram analisados com auxílio de estudos em microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura, aplicando-se métodos usuais. As fenofases, com poucas exceções, foram sazonais e correlacionaram-se positivamente com as variáveis ambientais temperatura média, precipitação e, principalmente, comprimento do dia. A maioria dos rebentos emitidos por P. gaudichaudianum permaneceu latente. Em P. vicosanum, os rebentos produziram espigas que floresceram, aumentando o número total de espigas. A brotação, nas espécies, ocorreu durante todo ou quase todo o ano, com picos síncronos na estação chuvosa (outubro e novembro). As espigas produzidas por P. vicosanum, ao longo do ano, permaneceram latentes por até 12 meses. Em P. gaudichaudianum, as espigas foram produzidas na estação chuvosa, entre outubro e dezembro, e floresceram em seguida. Nas espécies, o aborto de espigas foi acima de 73%. Ambas apresentaram picos de floração (antese), frutificação e dispersão de espigas com frutos, também na estação chuvosa (de outubro a março), sem sobreposição desses eventos entre as espécies. Piper vicosanum apresentou protoginia incompleta (a fase pistilada durou até o sexto dia) e houve 100% de frutificação, provavelmente devido à fase bissexuada das flores; portanto, é autocompatível. O período de receptividade dos estigmas foi longo (até 14 dias) e a exposição e senescência das papilas estigmáticas ocorreram de forma escalonada, em sentido basípeto, características inéditas para o gênero. Nas papilas senescentes, houve acúmulo de compostos fenólicos, no mesmo sentido. A liberação de pólen assíncrona, na sequência 1, 1, 1, 1, diferiu da sequência de desenvolvimento dos estames e é descrita pela primeira vez. O processo de liberação do pólen durou por até seis dias. Concluindo, as espécies possuem estratégias reprodutivas distintas, com separação temporal das fenofases reprodutivas, que são reguladas por variáveis ambientais semelhantes. O conjunto da morfologia funcional de P. vicosanum - flores protogínicas, longos períodos de receptividade do estigma e liberação de pólen, e uma fase bissexual das flores - parecem ser eventos-chave para suas estratégias reprodutivas na área de estudo.