Agrobiodiversidade e quintais agroflorestais como estratégias de autonomia em assentamento rural

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Tonini, Renato de Traglia
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Agroecologia
Mestrado em Agroecologia
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2013
Resumo: A agrobiodiversidade mantém o funcionamento de processos ecológicos nos ambientes, além disso, fornece recursos para o autoconsumo, necessidades energéticas e geração de renda para as populações humanas. Na história da humanidade, a preferência por uma matriz agrícola pouco diversa caracteriza o modelo de agricultura convencional praticado atualmente. Este modelo visa o controle do capital monetário sobre os meios de produção agrícola e representa séria ameaça à autonomia de trabalhadores rurais e à biodiversidade. Os saberes e as técnicas utilizados pela agricultura convencional preconizam a simplificação dos agroecossistemas, principalmente pelo uso de monoculturas e maior dependência de insumos externos. Como resultado, deixam um rastro de degradação ambiental e social nas zonas rurais. Dentre elas a concentração de terras e o êxodo rural. Nas últimas décadas, como forma de reverter esta situação, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra conseguiu a partir da luta social estabelecer vários assentamentos de reforma agrária, dentre eles o assentamento Olga Benário, situado no município de Visconde do Rio Branco (MG). Neste, mesmo depois de acessarem a própria terra, os agricultores assentados ainda passam dificuldades, dentre outras razões, devido às condições de degradação ambiental prévias da área e à falta de infraestrutura. Diante deste cenário, o presente trabalho procurou compreender as demandas de produção e conservação locais, e através da perspectiva científica, contribuir com o desenvolvimento local fortalecendo a troca de saberes no assentamento. O objetivo principal foi reconhecer e valorizar o conhecimento local e as práticas produtivas que contribuem para a conservação da agrobiodiversidade no assentamento. Foram utilizadas metodologias participativas junto aos agricultores buscando contribuir na construção do conhecimento agroecológico local. No primeiro momento, foi realizado um levantamento sobre os marcos legais e projetos acadêmicos realizados no assentamento. Os projetos buscaram potencializar a produção através de alternativas sustentáveis, sendo importante a continuidade e a adequação destes à realidade local. No segundo momento, 26 famílias do assentamento foram visitadas com o objetivo de conhecê-las. Foi realizado também um levantamento etnobotânico em seis quintais do assentamento. Através das visitas, foi possível perceber, por um lado, que os agricultores reconhecem a agrobiodiversidade animal por realizar funções ecológicas e aumentar a qualidade ambiental. Por outro lado, em muitos casos animais foram citados como antagonistas à produção agrícola ou como ameaça à vida humana. Com relação à agrobiodiversidade vegetal, as plantas cultivadas foram, na maioria dos casos, reconhecidas pela produção de alimentos e pelas múltiplas utilidades para as famílias. Plantas silvestres foram representadas, principalmente, por árvores espontâneas que fornecem alimentos e outros recursos aos agricultores. Algumas práticas agrícolas registradas fomentam principalmente a diversidade de espécies alimentares, como o plantio de árvores e roçadas seletivas. Apesar disso, a aração, queimadas e uso de alguns venenos contribuem para a diminuição da diversidade local. Por fim, nos seis quintais estudados encontrou-se elevada agrobiodiversidade, com 155 espécies em 65 famílias botânicas. Além do terreiro, foram identificadas 12 subunidades com funções diferentes nos quintais. As práticas que conciliaram os plantios com criações mostraram-se alternativas de diversificação e sustento das famílias. De maneira geral, foi possível perceber que a posse da terra significa autonomia para o agricultor. As práticas que favorecem a diversificação da produção e a agrobiodiversidade fortalecem a união do grupo familiar, agregam maior segurança alimentar e estabilidade financeira aos agricultores.