O fenômeno do alcoolismo: projetos de vida e redes de apoio

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Vilela, Janaína Soares
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Economia familiar; Estudo da família; Teoria econômica e Educação do consumidor
Mestrado em Economia Doméstica
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/3402
Resumo: O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e incentivado pela sociedade. Estima-se que cerca de 90% da população consome álcool. De cada dez consumidores, um tem problema de alcoolismo, com repercussões tanto no âmbito da saúde pública, quanto na vida pessoal, familiar e social do dependente. Tal situação leva a que famílias a recorram à ajuda externa, no sentido de apoiá-las no processo de recuperação e tratamento de seus membros dependentes. Nesse sentido, as principais questões que esta pesquisa pretendeu responder foram: Quais são as implicações do alcoolismo nos projetos de vida dos dependentes? Como as redes de apoio formal (as comunidades terapêuticas) e informal (família, amigos, vizinhos, etc.) interferem no processo de tratamento do doente? Diante desta realidade, o objetivo geral deste trabalho concentrou-se em analisar a realidade do alcoólatra e de sua família, examinando as repercussões do alcoolismo sobre projetos de vida e redes de apoio, assim como avaliar a efetividade do programa de uma comunidade terapêutica de Minas Gerais, como rede formal concreta de apoio ao alcoólatra, considerando o estágio de dependência. Tratou-se de uma pesquisa de natureza quantitativa e qualitativa, uma vez que ambas as abordagens se complementam, de caráter exploratório- descritivo, do tipo estudo de caso. Para satisfazer os objetivos propostos, a população envolvida compreendeu as Comunidades Terapêuticas de Minas Gerais. Para o estudo in loco, foi selecionado os residentes e egressos da Casa de Acolhimento São Francisco de Assis, em Ouro Preto/MG e suas respectivas famílias, além dos responsáveis pelo funcionamento da referida comunidade. A escolha da comunidade, seus dependentes e familiares dependeu da concordância com a aceitação da pesquisa. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário enviado por e-mail para os coordenadores das comunidades do estado e uma entrevista semi-estruturada, que foi aplicada junto aos dependentes, familiares e responsáveis técnicos. Os dados foram analisados, por meio da análise estatística e análise de conteúdo, discutidos a partir de literatura pertinente. Resultados mostraram que, em relação às metodologias utilizadas pelas comunidades terapêuticas de Minas Gerais, 60% trabalham com a metodologia dos 12 passos para o Cristão, que consiste em princípios ligados à religiosidade. As demais Comunidades Terapêuticas que não utilizam a referida metodologia consideram a espiritualidade como fundamental no tratamento da síndrome da dependência alcoólica; além da abordagem interdisciplinar, que enfatize a autoestima do dependente e o desejo de se recuperar. Com relação às redes de apoio acionadas para o tratamento do alcoolismo, as redes de íntimos, representada principalmente pelas famílias, foram as redes mais acionadas; seguidas pelas redes formais representadas pelas comunidades terapêuticas. Já, em relação à interferência do alcoolismo nos projetos de vida, ficou evidenciado que este interfere em todos os domínios da vida dos indivíduos, sejam familiares, comunitários, profissionais, financeiros, espirituais, médicos e psicológicos, mas a interferência se dá em especial no domínio familiar, levando muitas vezes à separação conjugal e degradação das relações familiares. No que se refere à efetividade do tratamento do alcoolismo, pode-se perceber que esta ocorre de forma parcial, devido à taxa de recuperação ser de apenas 30%, apesar de estar de acordo com a média nacional. Além disso, ficou claro que o bom resultado não depende somente das metodologias adotadas no tratamento, mas também da aceitação e a colaboração do indivíduo em se tratar. Neste sentido, pode-se concluir que, na avaliação das metodologias utilizadas nas Comunidades Terapêuticas de Minas Gerais, a recuperação do dependente depende da força de vontade do indivíduo em se tratar, bem como da utilização de técnicas, fundamentadas na espiritualidade, vistas como essenciais para a conquista de bons resultados. O alcoolismo pode ser considerado como uma doença social, pois atinge não apenas o indivíduo, mas todo o seu meio, interferindo de forma incisiva nos projetos de vida tanto dos dependentes quanto de suas famílias, que constituem a rede social mais acionada no tratamento e recuperação do dependente, seguida das comunidades terapêuticas (redes formais). A efetividade das metodologias adotadas pela Casa em questão possui um alcance parcial dos seus objetivos, em função da taxa de recuperação e limitações de recursos humanos especializados e de infra-estruturas adequadas. Entretanto, a influência da metodologia nas mudanças das condições de vida dos dependentes e familiares compensa o desvio entre o esperado e o realizado, em termos de recuperação e reinserção social. Sugere-se que mais trabalhos sejam desenvolvidos, especialmente tratando o alcoolismo como um problema social, e não apenas como uma doença.