Relevância dos exames complementares na indicação e na avaliação funcional dos resultados com implante de ceratoprótese de Boston tipo I

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: Silva, Luzia Diegues [UNIFESP]
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
• Palavras-chave em Português: Ceratoprótese de Boston tipo I; Videoendoscopia intraocular; Ultrassonografia ocular modo B; Eletrorretinograma; Potencial visual evocado; Campo visual
• Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/69164

Objetivo: O presente estudo tem por finalidade avaliar a relevância de exames complementares oftalmológicos, como ultrassonografia ocular modo-B, videoendoscopia per-operatória, testes eletrofisiológicos e campimetria visual na indicação e na avaliação funcional dos resultados com implante de ceratoprótese de Boston tipo IⓇ (BI-Kpro). Métodos: Estudo realizado com três trabalhos publicados em pacientes com implante de BI-Kpro do setor de Doenças Externas Oculares e Córnea da Universidade Federal de São Paulo: 1. Estudo prospectivo e intervencionista, incluindo 13 olhos de 13 pacientes com indicação prévia de implante de BI-Kpro. Todos os pacientes foram submetidos à avaliação pré-operatória, incluindo ultrassonografia ocular modo-B, testes eletrofisiológicos e videoendoscopia intraocular per-operatória (VE). Os resultados desses exames foram categorizados em favoráveis e desfavoráveis em relação aos resultados funcionais visuais do pós-operatório, de acordo com critérios pré-definidos. A acurácia em prever os resultados funcionais desses exames foi calculada com base na acuidade visual atingida no pós-operatório e no cálculo do valor preditivo positivo. 2. Estudo transversal e prospectivo não intervencionista, incluindo seis pacientes com BI-Kpro que tinham tomografia de coerência óptica e avaliação fundoscópica (disco óptico e retina) normais. Nenhum dos pacientes tinha histórico prévio de glaucoma. Medida de acuidade visual, campimetria computadorizada confiável e reprodutível (24-2 e 30-2) e campimetria manual de Goldman foram obtidas de todos os pacientes. Cada paciente respondeu ao questionário de qualidade de vida (National Eye Institute Visual Function Questionnaire) e seus resultados foram correlacionados com os índices do campo visual. 3. Estudo longitudinal, prospectivo e intervencionista, no qual 13 pacientes foram submetidos à medida de acuidade visual e aos testes de eletrorretinograma de campo total (ERG) e potencial visual evocado por flash (fPVE) e por padrão reverso (PVE-PR) (15' e 60') no pré-operatório e com três e 12 meses de pós-operatório da cirurgia de ceratoprótese de Boston tipo I. Resultados: 1. As 13 cirurgias e videoendoscopias per-operatórias aconteceram sem intercorrências. A acuidade visual pré-operatória foi de percepção luminosa a conta dedos; com um ano de pós-operatório, dez pacientes (76,9%) atingiram acuidade visual maior ou igual a 20/200 (resultado visual satisfatório), com cinco deles (38,5%) atingindo acuidade visual de 20/40 ou melhor. A ultrassonografia ocular modo-B apresentou valor preditivo positivo (VPP) de 85,7%, os testes eletrofisiológicos de 66,7% e videoendoscopia de 100% para obtenção de acuidade visual pós-operatória satisfatória. 2. A média de acuidade visual foi de 0,35 (20/44) ± 0,31 logMAR (0,84 a 0,10 – 20/138 a 20/25). Todos os campos visuais obtidos dos pacientes envolvidos no estudo apresentaram índices confiáveis e reprodutíveis. Os valores do mean deviation (MD) da perimetria computadorizada padrão foram de -7,25 ± 3,63 decibéis (dB) e de -7,75 ± 3,23 dB (24-2 e 30-2, respectivamente) e os valores do pattern standard deviation (PSD) foram de 2,72 ± 0,82 e de 3,30 ± 1,13 (24-2 e 30-2, respectivamente). A média dos valores da campimetria manual dos quatro quadrantes (superior, temporal, inferior e nasal) foi de 39,7 ± 4,5, 61,8 ± 6,2, 54,0 ± 4,3 e 48,2 ± 7,6 graus, respectivamente. Encontramos correlação significativa entre os índices do questionário VFQ-25 da visão geral e da visão para atividades de perto com os valores do gráfico de total deviation (TD) dos dez graus centrais. Os índices do VFQ-25, em relação à visão periférica, tiveram significativa correlação com os valores do gráfico de TD dos 30 graus. 3. Um total de 13 pacientes (24 a 88 anos) foram incluídos. A média de acuidade visual (logMAR) melhorou de 2,30 (MM) no pré-operatório para 1,04 (20/219) com três meses e para 1,00 (20/200) com 12 meses de pós-operatório. Flash PVEs foram normais em seis (46%) pacientes no pré-operatório e em dez (77%) pacientes nos 12 meses de pós-operatório. PVE-PRs foram não detectáveis em todos os pacientes no pré-operatório. Para PVE-PR de 15', seis (46%) pacientes mostraram respostas com três e 12 meses de pós-operatório, sendo um paciente com resposta normal nos 12 meses. Para PVE-PR de 60’, 11 (85%) pacientes tiveram respostas nos três meses e nove (70%) pacientes apresentaram respostas com 12 meses de pós-operatório. ERG de campo total foi anormal em todos os pacientes no pré-operatório. A melhora da amplitude foi encontrada em dez (77%) pacientes com três meses e com 12 meses de pós-operatório. Conclusões: 1. Visualização direta do segmento posterior do olho por VE é um procedimento minimamente invasivo, que pode auxiliar na avaliação de prognóstico visual em pacientes candidatos à BI-Kpro e, quando comparada à ultrassonografia ocular modo B 10 MHz e aos testes eletrofisiológicos, apresentou melhor capacidade em predizer o prognóstico funcional. 2. Pacientes com BI-Kpro sem glaucoma apresentam medidas campimétricas visuais confiáveis e reprodutíveis. Houve redução consistente na extensão do campo visual e diminuição global da sensibilidade. Apesar disso, os pacientes apresentaram bons resultados no teste de qualidade de vida. Os resultados podem ser úteis para melhorar o diagnóstico precoce do glaucoma e seu seguimento nesse grupo de pacientes. 3. A maioria dos pacientes submetidos ao implante de BI-Kpro apresentaram melhora quantitativa na função visual acessada pelos testes eletrofisiológicos. Esses testes podem contribuir para avaliar objetivamente a função visual dessa população.