Perfil neuropsicológico de crianças brasileiras submetidas à cirurgia fetal da mielomeningocele

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Amoêdo, Sheila da Costa [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11600/71086
Resumo: A cirurgia fetal marca um avanço histórico no tratamento da mielomeningocele, uma complexa malformação do sistema nervoso central, que impacta diversos aspectos do desenvolvimento humano. A hidrocefalia, as malformações encefálicas e fatores ambientais contribuem para a formação de um perfil cognitivo característico desse diagnóstico. Os resultados alcançados com a cirurgia fetal, como a redução tanto na frequência quanto na gravidade da hidrocefalia, a diminuição da necessidade de tratamento com derivação liquórica e o aumento significativo de nascimentos prematuros motivaram a investigação do funcionamento neuropsicológico de crianças brasileiras que passaram por esse procedimento. Objetivo: Analisar o funcionamento neuropsicológico de crianças brasileiras submetidas à cirurgia fetal da mielomeningocele e o efeito de variáveis sociodemográficas, clínicas, gestacionais e neurológicas. Método: Participaram do estudo 31 crianças submetidas à cirurgia fetal da mielomeningocele (MMC) e 17 crianças prematuras (PR), da mesma faixa etária e de ambos os sexos. Para a avaliação do funcionamento neuropsicológico foram aplicadas a Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI), a bateria neuropsicológica NEPSY II, a Escala de Comportamento Adaptativo - Vineland 3, o Inventário Behavior Rating Inventory of Executive Function (BRIEF), o Child Behavior Checklist (CBCL 6/18) e o questionário MTA-SNAP-IV. Foram selecionadas variáveis de exposição de relevância clínica e da literatura. Resultados: A amostra apresentou a mesma média de idade ⦏MMC (M=7, DP=1,06); PR (M=7, DP=1,18)⦐ teve o predomínio do sexo masculino e os pais tinham escolaridade entre o ensino médio e a pós graduação. O grupo MMC apresentou frequência mais baixa de herniação de Chiari (24%), de histórico de hidrocefalia (35%) e de derivação liquórica (19%) comparada às crianças que realizam o fechamento pós-natal. Em termos de desempenho intelectual, as crianças com mielomeningocele apresentaram resultados dentro da média populacional, mas com diferença estatisticamente significativa e média de escores mais baixa no subteste Raciocínio Matricial ⦏MMC (M=42, DP= 10,3); PR (M=56, DP=6,7); p< ,001⦐, Vocabulário ⦏MMC (M=51, DP= 13,8); PR (M=64, DP=9,9); p=0,002⦐, do Quociente de Inteligência Total ⦏MMC (M=91,2, DP= 17,2); PR (M=109, DP=16,1); p=0,002⦐ e de Execução ⦏MMC (M=83,5, DP= 14,0); PR (M=99,8, DP=13,1); p﹤,001⦐, em comparação às crianças prematuras. O comportamento adaptativo do grupo mielomeningocele destacou-se positivamente no domínio de socialização, porém em comparação ao grupo de prematuros, apresentou desafios nas atividades de vida diárias, principalmente pelas especificidades relacionadas ao diagnóstico. O grupo mielomeningocele apresentou escores inferiores ao grupo prematuro em todos os domínios neuropsicológicos avaliados, especialmente em algumas tarefas que envolveram controle inibitório e flexibilidade cognitiva, memória verbal e visual de curto e longo prazo, teoria da mente em contextos verbais e percepção visoespacial. Por outro lado, o mesmo grupo obteve altos escores em tarefas de velocidade de nomeação e de repetição de pseudopalavras. Em relação ao funcionamento executivo no ambiente de casa e na escola, os grupos demonstraram diferença estatística no índice Flexibilidade ⦏MMC (M= 55, DP= 11,8); PR (M= 49, DP= 6,5); p= 0,03⦐, quando o grupo MMC demonstrou mais desafios nesta habilidade. No que diz respeito aos problemas comportamentais, o grupo MMC apresentou índice mais alto de problemas de ansiedade ⦏MMC (M= 61,5, DP= 7,7); PR (M= 56, DP= 4,8); p= 0,04⦐, enquanto o grupo PR em problemas de conduta ⦏MMC (M=52, DP= 3,7); PR (M= 53,6, DP= 5,3); p= 0,05⦐. A escolaridade dos pais, a composição familiar, índices de prematuridade, hidrocefalia e uso de válvula de derivação liquórica foram alguns dos preditores do funcionamento neuropsicológico. Conclusões: O funcionamento neuropsicológico de crianças brasileiras submetidas à cirurgia fetal para mielomeningocele se caracteriza por um desempenho intelectual dentro da média populacional, porém com médias de escores significativamente mais baixas de Quociente Intelectual de Execução e Total. Elas enfrentam desafios principalmente em tarefas que envolvem atenção, controle inibitório, flexibilidade, memória e percepção visuoespacial, além de apresentarem um índice mais alto de problemas de ansiedade. Fatores familiares, neurológicos e relacionados à prematuridade são preditores do funcionamento neuropsicológico dessas crianças.