Mulheres negras e profissionais da Enfermagem: quando o invisível torna-se visível e dizível

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Lima, Beatriz de Souza [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/21806
Resumo: Este estudo qualitativo teve como objetivo compreender o significado de ser mulher e negra para as profissionais de Enfermagem trabalhadoras em um hospital de alta complexidade; conhecer a relacao que estabelecem entre o processo Saúde-doenca e a categoria raca/etnia durante o cuidado de si e do outro e; apreender o que conhecem sobre as politicas publicas de Saúde destinadas as mulheres negras. A apresentacao das narrativas foi sistematizada em tres eixos tematicos: (1) Mulher e negra: encantamentos e desencantamentos, (2) Modos e costumes na pratica do cuidado: ser e estar saudavel, (3) Politicas inclusivas do Sistema Unico de Saúde. As questoes de genero estao cada vez mais presentes nas sociedades tidas como democraticas, no limite as desigualdades entre homens e mulheres remontam um passado longinquo marcado pelo forte apelo religioso e pela formacao de um corpo fisico e comportamental feminino. No seculo XV os esparsos estudos cientificos, destinados a Saúde da mulher baseavam-se nas diferencas anatomo-fisiologicas existentes entre o homem e a mulher, ou seja, na condicao reprodutiva representada pelo ciclo menstrual e a gravidez. O recrudescimento das questoes sexistas e o fortalecimento do movimento feminista estimularam discussoes acerca da chamada sociedade patriarcal e machista, pois a mulher tinha sua participacao politica e economica controlada. As mulheres negras somavam a tais demandas a questao racial, pois a mesma atuava como impeditivo a sua insercao igualitaria na sociedade brasileira. Apesar do poder medico sobre os corpos, nos percursos da historia brasileira as praticas de cura, o conhecimento do corpo e a ligacao do ser biologico com o dominio da natureza subexistiram e deram vitalidade e forca dos povos negros e indigenas. A construcao social e historica do corpo feminino no Brasil sofreu forte influencia da religiao crista, assim nas decadas de 30, 50 e 70 as politicas publicas destinadas as mulheres baseadas no ciclo gravidico puerperal. Desta forma suas questoes especificas atreladas as demandas sociais e aos estudos desenvolvidos, constroem um espaco de elaboracao e execucao de servicos e assistencia em Saúde. O SUS se apresenta como politica de Estado com legitimidade constitucional, por meio dos seus principios doutrinarios e organizacionais o SUS se constitui um sistema publico singular. Dentre as conquistas que o SUS trouxe para a populacao brasileira, destacamos o principio da Equidade, que se coloca como paradigma das acoes de Saúde no SUS por conta de uma avaliacao historica feita pelos seus proponentes e executores da sua politica, onde a chave de leitura reside na constatacao da disparidade social construida pela persistencia do racismo. Sao multiplas e diferenciadas as formas como os aspectos sociais, economicos, politicos e culturais interferem na Saúde das pessoas e comunidades. Soma-se a tal cenario de desqualificacao e invisibilidade a condicao de ser mulher, pois, atrelado a assimetria racial ainda encontramos forte sexismo entre homens e mulheres. Para as narradoras entrevistadas, tais elementos estao presentes em seu cotidiano social, exigindo, portanto, uma contundente postura - por serem mulheres e negras. A equidade racial na Saúde exige desenvolvimento da chamada cidadania, urge que a participacao social nos equipamentos de Saúde seja estimulada, pois as politicas inclusivas devem emergir do cotidiano social das mulheres negras, tais demandas sao os sentidos perceptiveis de suas vidas. Cabe ressaltar que as questoes sexistas sao combatidas quando o empoderamento feminino se fortalece, ou seja, na inclusao da mulher em distintos espacos sociais. Estas conquistas conferem um cenario de autonomia e saber politico. Com a criacao do SUS, e das secretarias especificas a Saúde da populacao negra, as mulheres negras iniciam um arduo processo de inclusao e empoderamento. As narradoras apresentaram em suas falas o desconhecimento por tais politicas, bem como sua operacionalidade. E desafiador em tempos democraticos cujos direitos fundamentais aos cidadaos se encontram em processo de consolidacao, atentar aos caminhos inclusivos. Uma sociedade pautada na igualdade de direitos e na equidade exige uma identidade etnica cultural forte e coesa