Irmãos de fé, irmãos hereges: a narrativa da diferença em Ireneu de Lião - século II EC

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Amaral, Nathalie Drumond Alves do lattes
Orientador(a): Caldas, Marcos José de Araújo lattes
Banca de defesa: Caldas, Marcos José de Araújo lattes, Pereira, Raquel Alvitos lattes, Coser, Miriam Cabral lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em História
Departamento: Instituto de Ciências Humanas e Sociais
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/13879
Resumo: A pluralidade de interpretações sobre os ensinamentos de Jesus de Nazaré era uma realidade no paleocristianismo do século II EC. Vários eram os discursos orais e escritos circulantes em meio às comunidades cristãs. Tal questão demonstra não apenas as diferentes forças intelectuais que divulgam, em meio aos seguidores do Caminho, sua visão sobre esta crença. Este fator denuncia a presença de divergências interpretativas e a necessidade de controlar estas vozes que passam a se destacar em meio às comunidades paleocristãs. Numa tentativa de construção de identidade coletiva com base, não em Jesus, mas no Jesus segundo a interpretação assumida pelas forças episcopais, lideranças ganham prestígio em meio às relações de poder presentes no campo religioso. Neste sentido, observam-se empenhos discursivos, como o do Bispo Ireneu de Lião da região da Gália, de registrar e refutar a diversidade interpretativa sobre o Nazareno em sua obra Adversus Haereses, escrita entre 180-185 EC. Sendo este escrito antigo observado enquanto literatura, será verificado o uso de um discurso performático, segundo a análise conceitual de performance desenvolvida por Paul Zumthor. Com uma percepção voltada para a transdisciplinaridade, a qual destaca as relações de descontinuidade, complexidade do tema e alteridade, torna-se latente a tensão destes vários cristianismos categorizados por Ireneu como verdadeira e falsa gnose. Nesta obra, o bispo da Gália busca, por um lado, reidentificar o diverso como herege, ou seja, não cristão, e por outro, reiterar a legitimidade do discurso de seu grupo político, sendo este tratado como único detentor da verdadeira compreensão sobre a experiência cristã. Assim, não apenas o que era escrito pelos líderes, mas também o que poderia ser lido, ensinado pelos mestres ou quem poderia ser recebido como “irmão de fé” nas comunidades também seria alvo de preocupação. Com uma escrita teatralizada visando à construção do outro, tal esforço de Ireneu de Lião busca não apenas resignificar a experiência cristã, mas também demonstrar uma estratégia discursiva em meio às relações de poder existentes neste período.