Relações étnico-raciais no ensino de língua portuguesa : o que a Princesa não aboliu?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Rodrigues, Samanta Samira Nogueira lattes
Orientador(a): Sales, Sandra Regina lattes
Banca de defesa: Gouvêa, Fernando César Ferreira, Alves, Cristina Nacif
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares
Departamento: Instituto de Educação
Instituto Multidisciplinar de Nova Iguaçu
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/13156
Resumo: Nos foi contado que a Princesa Isabel não achou certo os negros serem escravos e resolveu acabar com a escravidão no Brasil. Passados quase cento e vinte e sete anos da abolição do sistema escravocrata, pesquisas apontam o campo educacional como um dos (re)produtores das desigualdades pelo pertencimento étnico-racial que se perpetuam até a atualidade. A existência de pesquisas que denunciam e questionam esse cenário, bem como as mudanças em relação a ele é um espaço que vem, aos poucos, se ampliando no País. Essa demanda por mudanças que combatam o racismo e os silêncios sobre ele, somadas às lutas do Movimento Negro em prol de uma educação pautada nas relações étnico-raciais, desencadeou a obrigatoriedade legal da inserção de conteúdos sobre a “História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional” em todo o currículo escolar. O objetivo de tal medida é resgatar a “contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política”. A fim de contribuir para os debates sobre a referida temática na educação, nosso trabalho tem como objeto o livro da disciplina Língua Portuguesa destinado ao nono ano do Ensino Fundamental intitulado Singular & Plural: leitura, produção e estudos de linguagem, por entender que o livro didático é considerado um instrumento de apoio ao trabalho do professor e são largamente adotados nas escolas. Nosso objetivo foi analisar as possíveis contribuições do Singular e Plural para a superação do racismo nas escolas, através da inserção da temática étnico-racial. Para tanto buscamos como pontos para diálogo três objetivos específicos que incluem destacar o que é legalmente proclamado sobre a educação para as relações étnico-raciais; relacionar os discursos oficiais com os textos presentes no livro didático selecionado para a pesquisa; e recolher as representações dos professores de língua portuguesa da escola da Rede Municipal de Nova Iguaçu, lócus da pesquisa. As perspectivas acerca do livro como instrumento para “a divulgação e produção de conhecimentos” referentes à “pluralidade étnico-racial”, objetivo presente no Parecer que regulamentou a obrigatoriedade legal da educação pautada nas relações étnico-raciais revelaram-nos a dissociação entre ensino gramatical e produção de textos, alguma descrença nos alunos por uma extensa sequência de “eles não conseguem, se posicionam, têm um caminho para chegar...” e que o livro enquanto recurso didático possibilita que diálogos sejam feitos e ampliados. Os professores evidenciaram, ainda, que a parte livro que consolida as alterações feitas na LDBEN não é utilizada na escola pesquisada. Parte de uma dentre as tantas realidades escolares no Brasil, as percepções das professoras evidenciaram o que a princesa não aboliu: a associação que animaliza as pessoas negras por “brincadeiras” quando se chamam daquilo que acontece “em estádio de futebol”, bem como sua naturalização. Sem eufemismos? Quando se chamam de macacos. Que no final das contas, como proclama o livro em alguns de seus textos, “somos todos iguais”. Somos? Apesar da disparidade entre proclamado e real, pois o potencial do livro não foi utilizado, há professores contribuindo para que os alunos do Ensino Fundamental reflitam sobre essas interrogações