Interlocução de Saberes na Construção do Plano de Etnodesenvolvimento do território quilombola do Gurutuba, Norte de Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Teixeira, Tiago Salles lattes
Orientador(a): Uzêda, Mariella Camardelli
Banca de defesa: Uzêda, Mariella Camardelli, Dayrell, Carlos Alberto, Carvalho, Igor Simoni Homem de
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica
Departamento: Instituto de Agronomia
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://rima.ufrrj.br/jspui/handle/20.500.14407/10484
Resumo: O Quilombo do Gurutuba forma um contingente de 895 famílias quilombolas, dispersos em 30 núcleos populacionais, distribuídos em sete municípios da região norte de Minas Gerais. Com advento das políticas desenvolvimentistas na região, a comunidade assistiu a um processo agressivo de degradação ambiental e expropriação territorial, ao ponto que, atualmente estão sob posse de apenas 3% do seu território. No anseio da titulação do território, a comunidade se encontra em vias de construção do seu Plano de Etnodesenvolvimento. Neste contexto, a presente pesquisa foi concebida no intuído de caracterizar de forma participativa o território quilombola do Gurutuba, os vetores de pressão e degradação e, fazer um zoneamento da área de forma a permitir o resgate dos serviços ecossistêmicos e a qualidade de vida da população local. Apoiado na abordagem epistemológica da agroecologia, a cartografia social foi o método utilizado para reportar ao olhar da comunidade, fazendo uso de instrumentos variados no suporte a construção de um conhecimento integral sobre o território tradicional. Tal junção permitiu também fazer conexões com outras diversas áreas de conhecimento. Com a exploração literária e o aporte da memória coletiva local, vetores de pressão e impactos socioambientais são caracterizados, de modo a constituir uma matriz de análise multidimensional. O resultado disso, é uma ferramenta com potencial de subsidiar reflexões comunitárias acerca da realidade vivenciada e, consequentemente, favorecer estratégias de reposicionamento comunitário. Além disso, ferramentas de geoprocessamento contribuíram no suporte a caracterização e representação das escalas de paisagem reconhecida pelos Gurutubanos. Assim, os resultados demonstram a complexidade dos níveis organizacionais utilizados pelos quilombolas na apropriação do espaço em suas distintas particularidades, de tal modo a permiti-los produzir em diferentes tipos de solos e garantir a sobrevivência de um grande número de pessoas sob áreas relativamente pequenas. Assim, em cada modalidade do Sistema Agrícola Tradicional Gurutubano (SAT), procura-se aproveitar os potenciais inerentes à unidade de paisagem em que se situa. O reconhecimento da (agro)biodiversidade e serviços ecossistêmicos é uma forma de materialização do SAT e, de tal forma, as espécies da flora local são categorizadas em diversas tipologias de uso comunitário. Esse o estudo etnobotânico foi efetivado em transectos por diferentes unidades de paisagem. E da análise de Cenários, foi possível identificar em três escalas temporal o movimento gradual de redução da fauna local. De porte deste resultado, o corredor ecológico se apresenta como alternativa viável de reconexão da paisagem e se relaciona diretamente às estratégias de proteção de espécies e processos funcionais do ecossistema. Para isso, utilizou-se de técnicas de interpretação de imagens, combinadas a técnicas de reflexão comunitária para determinação de paramentos de viabilidade para implantação de corredores ecológico. A apesar de sucessivas pressões sobre população e território, revela-se nos resultados a resiliência de uma comunidade que mantem viva a territorialidade. O direito dos gurutubanos ao território é condição vital para a conservação da (agro)biodiversidade e serviços ecossistêmicos; para tanto, é interesse do Estado e de toda sociedade civil.