"Eu 'se' esforço, mas não consigo": sentidos do processo de alfabetização para crianças não alfabetizadas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: França, Ana Clarissa Gomes de
Orientador(a): Lopes, Denise Maria de Carvalho
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/49255
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar os sentidos atribuídos por crianças não alfabetizadas, após cursarem os três primeiros anos do Ensino Fundamental, ao processo de alfabetização. Para tanto, tematiza questões relativas à alfabetização, às crianças como sujeitos e ao processo de aprendizagem, e orienta-se pelas seguintes premissas: a) a alfabetização consiste no processo de aprendizagem inicial da língua escrita, que envolve a compreensão do Sistema de Escrita Alfabético e o desenvolvimento de capacidades necessárias ao domínio de práticas de ler e escrever/produzir textos escritos (SOARES, 2011; SMOLKA, 2012; 2017; LOPES, 2012; LOPES; VIEIRA, 2011; CARVALHO, 1990; 1999); b) as crianças são sujeitos capazes de aprender, desde que em condições sociais de possibilidades, produtores de cultura, competentes, capazes de participar dos processos que lhes dizem respeito e de construir sentidos e significados acerca do mundo e de si mesmas (KRAMER, 2006; SARMENTO, 2007); c) a aprendizagem consiste em processo de apropriação de objetos da cultura, resultante de interações e mediado – social/pedagógica e simbolicamente – pelos outros e pela linguagem (VIGOTSKI, 1991; 2001). Como aporte teórico-metodológico a pesquisa assume princípios da abordagem qualitativa, proposições de L. S. Vigotski para as pesquisas sobre processos humanos e de M. Bakhtin para as pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Privilegia, na investigação, as significações que os sujeitos envolvidos atribuem aos objetos de estudo que, por sua vez, são considerados como processos que têm história, estão em movimento, têm relação com os contextos e seu estudo envolve, mais que descrição, interpretação (VIGOTSKI, 1997; 2008); considera que a pesquisa envolve interação, dialogismo, responsabilidade, responsividade e movimentos de aproximação e distanciamento por parte do pesquisador (BAKHTIN,1995; 2011); considera que os sentidos são elaborações como parte do processo de significação (internalizaçãoapropriação) e envolvem todos os aspectos da vida psíquica de cada sujeito e são vinculados aos contextos de interação social (VIGOTSKI, 2008). A partir das proposições de Kramer (2002), a investigação pauta-se nas orientações sobre a ética na pesquisa com crianças, respeitando sua condição como sujeitos concretos e de direitos, e tem como procedimento metodológico a realização de entrevistas semiestruturadas que, em virtude dos limites do contexto pandêmico de 2020-2021, foram desenvolvidas de modo remoto por chamada telefônica convencional e por chamada de vídeo via WhatsApp. Participaram do estudo cinco crianças não alfabetizadas, com idades entre 9 e 12 anos, matriculadas em turmas de 4° e 5° ano em escolas públicas de Natal, RN. A análise dos dados construídos permitiu compreender, nos discursos elaborados pelas crianças a partir de seus próprios percursos escolares e de suas vivências no meio sociocultural, que elas atribuem diferentes sentidos ao seu processo de alfabetização, sendo possível identificar que, para elas: i) Aprender a ler e a escrever exige esforço pessoal; ii) Alfabetização é um processo que exige mediação; iii) A alfabetização se dá pelos usos dos objetos da cultura letrada; iv) A forma como acontece o ensino da leitura e da escrita implica nas (não)aprendizagens; v) A não alfabetização suscita sentidos negativos sobre si. Esses sentidos apontam efeitos das não aprendizagens sobre as crianças, que se veem corresponsáveis por seus não avanços, assim como desenvolvem visões-sentimentos não positivos sobre si mesmas. Ao mesmo tempo, reafirmam o papel fundamental da mediação pedagógica – intencional e sistemática – no processo de alfabetização, o que põe em relevo os processos de formação inicial e continuada de professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como os contextos escolares e suas práticas/condições de trabalho que envolvem gestores, professores e crianças-aprendizes como pessoas-sujeitos nos-dos processos e resultados de aprendizagem.