Sobre aberturas, entrelaçamentos e dilatações: uma fenomenologia do corpo nas práticas de cuidado de um centro de convivência e cultura (CECCO)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Breunig, Felipe Freddo
Orientador(a): Mendes, Maria Isabel Brandão de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/48427
Resumo: Esta pesquisa tematizou as relações entre corpo e saúde mental a partir das experiências vividas pelos usuários de um Centro de Convivência e Cultura (CECCO). Os CECCOS são serviços estratégicos para a desinstitucionalização das práticas de cuidado em saúde mental. Todavia, estes serviços têm sido negligenciados pelas políticas públicas de saúde do Brasil, e suas práticas ainda são pouco estudadas. Trata-se de uma pesquisa fenomenológica que se guiou pelas seguintes questões norteadoras: Como os participantes do CECCO vivenciam seus corpos nas atividades e intervenções realizadas por este serviço? Como estas experiências vividas afetam seus processos de cuidado e de reinserção psicossocial? Desta forma, os objetivos desta pesquisa foram: compreender as experiências vividas no CECCO a partir da perspectiva dos usuários e da equipe deste serviço; refletir sobre o corpo e a desinstitucionalização das práticas de cuidado em saúde mental; construir horizontes de reflexão nos campos da Educação Física e da Reforma Psiquiátrica brasileira a partir de uma abordagem fenomenológica. Justifica-se este trabalho pela necessidade de mais investigações que tematizem os CECCOS, e também pela necessidade de um aprofundamento maior das reflexões sobre corpo nos campos da Educação Física e da Saúde Mental. Foram realizadas entrevistas com alguns usuários e membros da equipe do serviço, observações participantes no cenário de pesquisa, e também a seleção de imagens de intervenções realizadas pelo CECCO na cidade. Pela redução fenomenológica, buscou-se compreender o corpo nestas experiências vividas, a partir do diálogo com as noções sobre corpo presentes na obra de Merleau-Ponty. Uma primeira compreensão das experiências vividas junto ao CECCO se deu a partir da imagem de um corpo fechado, que aponta para a evocação de memórias advindas das experiências de internação, de medicalização e de estigmatização relacionadas à loucura e ao diagnóstico de doença mental. Estas experiências fazem o corpo habitar o lugar da incapacidade e da periculosidade, e o tornam objeto de medicalização dos seus gestos. Nas experiências vividas junto ao CECCO, percebemos um movimento de abertura deste corpo, e um deslocamento do seu lugar de corpo objeto para uma condição de corpo sujeito que sente e se afeta. Há uma retomada de contato com suas próprias sensações, movimentos e espacialidades, que lhe possibilitam abrir-se para uma perspectiva de autocuidado e desmedicalização de seus gestos. Já nas experiências expressivas híbridas proporcionadas pelo serviço vemos um deslocamento desse corpo do lugar do estigma pela emergência de uma corporeidade fundada na capacidade de criar. As experiências de convivência do CECCO também abrem campos de intercorporeidade, que promovem entrelaçamentos do corpo com outros corpos, assim favorecendo a formação de grupalidades e intersubjetividades. Nestes entrelaçamentos formam-se amizades, a partir de onde criam-se relações mútuas de cuidado. Há também um movimento de dilatação do corpo em direção à cidade nas intervenções do serviço, onde o corpo faz fronteira com o território. Estas perspectivas de aberturas, entrelaçamentos e dilatações do corpo também nos levaram a refletir sobre o corpo que habita a fronteira entre Educação Física e Saúde Mental, a qual é marcada por tensionamentos e oscilações entre deriva e identidade profissional. Desta forma, abrem-se novos horizontes reflexivos que podem contribuir para uma desinstitucionalização dos saberes da Educação Física, e também para a compreensão da saúde e da mente a partir das experiências vividas pelo corpo.