Quando o suicídio invade a instituição de ensino: a perda e o luto na vivência de estudantes e educadores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Queiroz, Camilla Danielle Silva de Lima
Orientador(a): Silva, Geórgia Sibele Nogueira da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/51281
Resumo: A morte ainda é assunto interdito na sociedade e, por conseguinte, na escola, dificultando a expressão do luto entre alunos e educadores. As mortes violentas de adolescentes e jovens tem sido uma constante na atualidade, sendo o suicídio a segunda causa de morte entre eles no âmbito mundial, repercutindo significativamente nos espaços educacionais. Por ser uma uma morte inesperada, violenta e estigmatizada, o suicídio de um estudante gera comoção em toda a comunidade escolar, atingindo especialmente seus pares. Já os educadores também são impactados, embora precisem apoiar os alunos e gerenciar essa situação de crise. Nesses espaços, esses sofrimentos não têm sido reconhecidos e amparados. Este estudo objetiva compreender como estudantes e educadores vivenciam a perda e o luto diante da morte de aluno por suicídio, a fim de contribuir com intervenções de posvenção e prevenção do suicídio nas instituições de ensino. Foi realizada uma pesquisa qualitativa com aporte teórico da hermenêutica gadameriana, utilizando a entrevista narrativa com uso de cenas projetivas. Foram realizadas 6 entrevistas com estudantes (matriculados e egressos), sobreviventes de suicídios diferentes, entre 17 e 22 anos, e com 3 professores, de 3 campis distintos do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). A tese foi construída na estrutura de artigos. O primeiro referese a uma revisão integrativa, intitulada “Luto por suicídio e posvenção na escola: uma revisão integrativa”, acerca do suicídio e do luto por suicídio na escola, a partir de artigos nacionais e internacionais, cujos resultados apontaram para a necessidade de se considerar a cultura, bem como as necessidades individuais dos sobreviventes ao se formular programas de posvenção na escola. Verificou-se também diminuta produção de estudos que contemplassem os educadores e, no Brasil e na América Latina, uma lacuna expressiva em relação a essa temática. No segundo artigo “Quando o luto por suicídio invade a escola: o desamparo dos estudantes” identificamos a significação da morte pelos estudantes como um fim inevitável, um recomeço na vida espiritual e uma possibilidade de ressignificar o viver. Já o significado do suicídio surgiu como uma escolha diante do desespero e da solidão e o não querer morrer de fato; egoísmo e ausência de culpabilização; além de um resultado do contexto suicidante em que vivemos. Suas manifestações em relação ao impacto da perda se deram a nível intrapessoal (choque, alguns medos, ansiedade, tristeza, impotência, culpa e manifestações fisicas, cognitivas e comportamentais), interpessoal e transpessoal. Dentro do continuum de sobrevivência, os estudantes estiveram entre expostos, afetados e enlutados por suicídio, demonstrando a necessidade de serem amparados pela instituição de ensino. O terceiro artigo, revela que o enfrentamento dos adolecentes/jovens transitou entre a solidão e conversas com amigos, recorreram a religiosidade, e tiveram pouco e descontínuo suporte institucional. No quarto artigo intitulado “Quando o suicídio de um estudante invade a instituição de ensino: o luto invisibilizado dos educa(dores)” abordamos os impactos dos suicídios nos níveis inter, intra e transpessoal nos professores, evidenciando que, a depender de cada um dos suicídios, eles se encontram no continuum de sobrevivência entre os expostos, afetados e enlutados (a curto prazo). Destaca-se que receberam pouco suporte relacionados a posvenção ao suicídio pela instituição, além de terem suas dores invisibilizadas e apresentarem dificuldades em lidar com os estudantes sobreviventes. No quinto artigo, “Quando o suicídio de estudante invade a instituição de ensino: enfrentamentos dos educa(dores) e posvenção”, os professores relatam que os enfrentamentos diante da perda por suicídio de um(a) aluno(a) ocorreram através da participação em ritual de despedida e da ajuda de pares, contudo houve também falta de suporte institucional e enfrentamentos solitários. Identificamos ainda algumas dificuldades institucionais como: o retorno ao trabalho sem o apoio necessário, a desarticulação da equipe multiprofissional e a ausência de rituais acerca do legado do estudante. Foi possível concluir que os estudantes e professores(as) do nosso estudo se enlutaram diante do suicídio dos(as) alunos(as), estando entre os sobreviventes expostos, afetados e enlutados dentro do continuum de sobrevivência. Assim, esta tese revela ser imperativo que as instituições de ensino estejam preparadas para gerenciar esse tipo de crise, através de políticas públicas e trabalhos de posvenção, que enfrentem o tabu da morte, do suicídio e do luto, bem como promovam a capacitação de seus profissionais para o acolhimento dos estudantes, enquanto também são acolhidos, tornando-se assim instituições educacionais capazes de abrigar e amparar sentimentos, transformando-se em espaços de sonhar, esperançar.