Conhecimento ecológico local sobre espécies de anfíbios anuros e biocontrole de insetos pragas em sistemas agrícolas de região semiárida brasileira: subsídios à etnoconservação

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Oliveira, Iaponira Sales de
Orientador(a): Freire, Eliza Maria Xavier
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/22237
Resumo: Historicamente, a agricultura praticada na região semiárida do nordeste brasileiro é nômade, itinerante ou migratória; os agricultores desmatam, queimam, fertilizam o solo, plantam por um curto período e migram para outras áreas, onde repetem a mesma prática, além de utilizarem uma quantidade significativa de agroquímicos para o combate de pragas. Esta atividade tem provocado perda significativa de qualidade de vida e da biodiversidade local. No contexto da biodiversidade, destacam-se os Anfíbios Anuros, que compreendem os sapos, rãs, pererecas e jias, são relevantes nas cadeias e teias ecológicas, especialmente por serem bioindicadores de qualidade ambiental e biocontroladores de populações de insetos, estabelecendo um controle natural de pragas em áreas agrícolas. Apesar de suas importâncias, nas duas últimas décadas têm ocorrido declínio e desaparecimento de algumas espécies de Anuros no Brasil e em todo o mundo, por seres sensíveis; uma vez que são sensíveis a mudanças ambientais. A redução de espécies pode ser decorrente de ações antrópicas relacionadas à devastação de áreas naturais para utilização agrícola, garimpos ou pastagens. Nesse contexto, inexistem estudos que abordem as interações e reconhecimento de comunidades agrícolas e os anfíbios anuros, em especial em região semiárida do nordeste brasileiro, a exemplo daquelas sob influência da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, onde comunidades vivem da agricultura e pecuária como principais atividades econômicas, utilizando a água daquele rio para irrigação. A região de Itaparica e respectivos sistemas agrícolas constituem parte de um projeto de pesquisa amplo e binacional, Brasil – Alemanha (INNOVATE Project), o qual tem por objetivo geral identificar os múltiplos usos da água do reservatório e analisar as inovações referentes ao manejo dos recursos aquáticos e terrestres, e de cujo subprojeto, SP-4 - Biodiversidade e Serviços do Ecossistema, esta tese é decorrente. Neste cenário e contexto, o objetivo geral desta tese foi registrar, descrever e analisar qualitativamente o conhecimento de comunidades locais sobre as espécies de anfíbios anuros e sua biologia, visando o reconhecimento destes como biocontroladores de insetos pragas nos sistemas agrícolas, em substituição aos agroquímicos, a fim de promover a conservação dos anuros e melhorar a qualidade de vida dos agricultores locais, em prol da sustentabilidade. As comunidades estudadas, Petrolândia e Itacuruba, estão situadas às margens do médio Rio São Francisco, Estado de Pernambuco, onde o trabalho de campo foi efetuado durante quatro excursões, duas a cada um dos municípios estudados, entre os meses de novembro/2012 a abril/2013. Foram entrevistados 369 agricultores, com idades entre 18 e 65 anos, todos do sexo masculino, sobre as práticas agrícolas e biologia das espécies de anfíbios anuros. Para a identificação das espécies de anfíbios anuros, foram inicialmente realizados estímulos visuais, com o auxílio de fotografias de espécies comuns em áreas de caatinga. Este método serviu para nortear os entrevistados contextualmente, assegurando que as entrevistas fossem direcionadas ao mesmo objeto (espécies de anfíbios anuros), a fim de coletar dados etnobiológicos precisos. Posteriormente, as espécies de anfíbios anuros mais citadas nas entrevistas foram coletadas através de busca ativa ao longo das áreas agrícolas e Caatinga circunvizinha (parte dos dados secundários do Innovate Project). Para caracterizar os locais de reprodução e desenvolvimento dos anfíbios anuros nas áreas agrícolas, foram elaborados mapas orais, obtidos a partir de turnês guiadas com os agricultores que citaram a existência de sítios reprodutivos em suas áreas de cultivo, os quais foram georreferenciados. Os agricultores reconheceram e nomearam oito etnoespécies, que correspondem a 13 espécies de anfíbios anuros, bem como seus principais locais de reprodução e desenvolvimento. A partir destas informações, foram elaborados dois mapas georreferenciados, relacionados principalmente aos locais de reprodução, os quais demonstram 13 sítios de reprodução em Itacuruba e seis em Petrolândia/PE. As respostas dos agricultores também possibilitaram identificar os valores atribuídos aos anfíbios nas áreas agrícolas, por meio do conhecimento acerca dos seus hábitos alimentares, ao citarem que os anfíbios comem principalmente insetos (65% dos agricultores de Petrolândia, n=238; 58% em Itacuruba, n=131), demonstrando conhecimento acerca da participação destes animais no equilíbrio ambiental e possível controle de pragas agrícolas. Não se constataram diferenças de concepção local, quanto à importância dos anfíbios no controle de pragas, entre sistemas irrigados e não irrigados. Os agricultores de Petrolândia (83%, n=238) e de Itacuruba (78%, n=131) relataram ter identificado, por observações in loco, que os anfíbios se alimentam de pragas agrícolas locais, possibilitando inferir que são biocontroladores dessas pragas. Também foram bastante enfáticos ao afirmarem que os anfíbios devem ser preservados (78%, n=238 em Petrolândia; 73%, n=131 em Itacuruba), principalmente por se alimentarem de insetos pragas, e por não constituir ameaça às comunidades agrícolas. Estas respostas possibilitaram a elaboração de uma cartilha ilustrada, em literatura de Cordel, a qual será distribuída e divulgada em escolas, cooperativas agrícolas e associações comunitárias dos municípios estudados, como instrumento de popularização da Ciência sobre a importância dos anfíbios no biocontrole de pragas agrícolas, em substituição ao uso de Agroquímicos. Entretanto, apesar de os agricultores locais destacarem a importância dos anfíbios e de sua preservação para controle de insetos pragas, ainda não os aceitam como aliados no controle natural de pragas em substituição aos agroquímicos. A popularização da Ciência por meio do Cordel Ilustrado é o primeiro passo em prol da sustentabilidade por meio de alternativas viáveis e práticas agrícolas sustentáveis, que visem à conservação das espécies e das atividades locais.