Palavra empalhada, violento caminho: uma leitura de narrativas curtas de Raduan Nassar e Ricardo Daunt

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Silva, Gabriella Kelmer de Menezes
Orientador(a): Santos, Derivaldo dos
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/58193
Resumo: Este trabalho teve como objetivo a análise das manifestações da violência e do silêncio nas narrativas “Menina a caminho”, de Raduan Nassar, e “Os autos de Beatriz”, de Ricardo Daunt, obras que elaboram, respectivamente, contextos autoritários vinculados ao Estado Novo e à ditadura militar. A pesquisa é qualitativa e bibliográfica, utilizando-se do método comparatista no estabelecimento de relações entre as obras (Carvalhal, 2003; Nitrini, 2015). Para atingir o fim almejado, foram observadas, a partir das leituras integrativa (Candido, 2010, 2014) e dialógica (Bakhtin, 2015), as intersecções entre literatura e sociedade, concebendo-se o texto simultaneamente como estrutura e como discurso. A violência foi estudada a partir das concepções sociológicas de Marilena Chauí (2017), para quem diversas modalidades de agressões e assujeitamento estão enraizadas na sociedade brasileira, e das contribuições críticas de Jaime Ginzburg (2012, 2017) e Karl Schøllhammer (2013), que identificam a produtividade da temática na literatura nacional. O silêncio foi concebido como elemento não-verbal do enunciado (Bakhtin, 2016; Volóchinov, 2019a), para o qual é necessária a atribuição de um sentido linguístico (Barthes, 2003). Na literatura, foi compreendido a partir das considerações de Lourival Holanda (1992), que enxergou, em textos brasileiros, o silêncio como índice de imposições de um sistema social desigual. Sendo as duas temáticas analisadas imbricadas em determinados atos literários, avaliou-se também as ocorrências de silenciamento, relativas ao uso de força para calar determinadas manifestações discursivas. Como resultado da análise, notabilizou-se, quanto aos textos estudados, dimensões violentas relacionadas à hierarquização da sociedade, ao abuso sexual, ao estupro, à violência doméstica e à tortura, assim como modalidades de silêncio que se manifestam no entorno das agressões, na manutenção da violência ditatorial e na proteção das vozes opositoras no contexto da luta política. O silenciamento, destacado pelo seu caráter forçoso, foi identificado em ambas narrativas no contexto de contenção do discurso político. Concluiu-se, enfim, que os meios expressivos e os elementos composicionais de cada obra foram responsáveis pela elaboração de diferentes dimensões das temáticas estudadas, sendo elas vinculadas mais fortemente a relações sociais hierarquizadas ou à materialização ficcional de um Estado violento.