Enlutados da pandemia: os testemunhos daqueles que perderam entes queridos sob o viés fenomenológico heideggeriano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Pimentel, Iuri Araújo
Orientador(a): Azevedo, Ana Karina Silva
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/54673
Resumo: Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou estarmos diante da primeira pandemia do século XXI. Diante da ameaça imposta pelo vírus à sobrevivência humana, medidas sanitárias foram adotadas em escala mundial a fim de desacelerar sua profusão e, assim, preservar o maior número de vidas possíveis. No Brasil, entretanto, o resultado foi trágico. Pouco mais de três anos após o início da pandemia, mais de 700 mil pessoas morreram em nosso país. Tão expressivo quanto o número de mortos, é o contingente de pessoas enlutadas pela morte de seus entes queridos. Aos sobreviventes, foram vedadas ou extremamente impactadas as elaborações dos ritos fúnebres, devido às altas taxas de contágio nos períodos mais agudos da pandemia. O objetivo do presente estudo é compreender a experiência de luto vivida por aqueles que perderam entes queridos em decorrência da Covid-19. Esta pesquisa é um estudo fenomenológico-hermenêutico, inspirado na possibilidade interpretativa do Círculo Hermenêutico pensado por Heidegger, como já proposto por Azevedo e Dutra (2013). Foram entrevistadas três pessoas, sendo duas mulheres e um homem. A análise das entrevistas narrativas se deu pela compreensão e interpretação das experiências compartilhadas por nossos participantes. Os resultados desta pesquisa revelaram os sentidos atribuídos pelos participantes à experiência como enlutados. Nesta direção, as interpretações das narrativas apontam para vivências afinadas ao mundo pelas disposições fundamentais do temor e angústia, despertadas pela ameaça as suas existências e de parentes em virtude da pandemia. As narrativas acerca de suas experiências de enlutamento na pandemia desvelaram também vivências de incredulidade quanto a concretização da morte de seus familiares; oscilação entre os estados de aflição e esperança quanto à recuperação do parente durante a internação; impotência e desamparo ante a impossibilidade de estar ao lado do ente querido durante a internação, restando apenas o lugar de espera quanto aos boletins diários fornecidos pelos hospitais. Refletimos sobre o modo de ser-com aquele que morreu durante o velório, tendo em vista a presença dos protocolos sanitários durante todo evento. Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para visibilidade de milhões de brasileiros cujo sofrimento existencial parece ser negligenciado, uma vez que, até o momento, não foram pensadas políticas propositivas voltadas aos cuidados a saúde mental daqueles que são, sem dúvidas, os enlutados da pandemia.