Uso de indicadores ecológicos e socioeconômicos para avaliar mudanças na pesca

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Damasio, Ludmila de Melo Alves
Orientador(a): Lopes, Priscila Fabiana Macedo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/30788
Resumo: Peixes e frutos do mar obtidos por meio da pesca extrativa são um dos principais serviços ecossistêmicos de uso direto fornecido pelos oceanos, o que justificaria a necessidade de se regulamentar e manejar adequadamente a pesca. Esta regulamentação e este manejo, a princípio, deveriam ser feitos a partir de dados multiespecíficos, capazes de retratar uma atividade que envolve aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Na realidade brasileira, no entanto, dados pesqueiros tendem a ser poucos ou inexistentes, e abordagens multidisciplinares ainda são raras. Neste contexto, esta tese teve como objetivo utilizar indicadores e variáveis ecológicas, sociais e econômicas para avaliar, as mudanças na pesca e seus impactos na renda dos pescadores, ocorridos nos últimos 20 anos, usando duas escalas espaciais e temporais: 1) macroescala: todo o Brasil, com o objetivo de avaliar mudanças globais em uma longa série temporal (1950- 2010); 2) escala regional: oito comunidades pesqueiras do Rio Grande do Norte e Ceará, para avaliar mudanças mais específicas nos últimos 20 anos (1994 – 2014). As análises foram feitas por meio de um conjunto de diferentes ferramentas metodológicas e estatísticas robustas e capazes de lidar com limitações temporais e espaciais nos dados (entrevistas com dados de memória de pescadores, Modelos de Distribuição de Espécies, e análise de convergência indicadores ecossistêmicos). Para os dados em macroescala, utilizamos especialmente a reconstrução das capturas pesqueiras, disponível na base de dados do Sea Around Us. Para os dados em escala regional, utilizamos informações obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas, os mesmos dados de reconstrução de capturas, dados de primeira revenda de pescado (banco de dados também fornecido pelo Sea Around Us) e dados ambientais (bioOracle). Estas duas escalas de análise foram organizadas em três capítulos distintos, cujos objetivos principais eram: 1) descrever e analisar a situação de exploração dos recursos pesqueiros no Brasil a partir de uma perspectiva ecossistêmica; 2) investigar mudanças na distribuição espacial da pesca de pequena escala ao longo da região equatorial brasileira entre 1994 e 2014 e os fatores ecológicos e socioeconômicos que influenciaram essa mudança; e 3) verificar os fatores adaptativos e as estratégias que ajudam a explicar porque alguns pescadores obtêm rendimentos mais baixos do que outros. No primeiro capítulo, identificamos que a diferença entre as ecorregiões Nordeste/Amazônia/Leste e Sudeste/Rio Grande é notável. As regiões Sudeste e Rio Grande tiveram os piores índices, indicando que a pesca não está sendo realizada de maneira sustentável enquanto que as demais regiões apresentaram índices melhores. O 7 MTI variou entre as regiões e entre a pesca artesanal e industrial, mas o fenômeno “fishing down marine food web” não foi observado em todas as regiões, apenas na região Rio Grande. Por outro lado a expansão geográfica ocorreu de forma semelhante em todas as regiões e para os dois tipos de pesca. Já no segundo capítulo, foi observado que uma mudança relevante na distribuição espacial da pesca foi detectada e demonstrou que a pesca tem se movido principalmente de águas rasas para mais profundas. Embora as espécies-alvo tenham permanecido as mesmas em 1994 e 2014, a abundância dessas espécies diminuiu significativamente ao longo do tempo, o que afetou negativamente a renda dos pescadores. Por fim, o terceiro capítulo mostrou que os pescadores mais pobres em 1994 continuam sendo os mais pobres em 2014. Embora diferentes variáveis expliquem a renda nos 2 anos - Estado, barcos grandes e motorizados e equipamento compressor em 1994 e barcos grandes e uso do anzol e linha em 2014, as 3 principais mudanças relacionadas à pesca foram feitas tanto por pescadores que perderam rendimentos quanto por pescadores que tiveram aumento nos rendimentos. Os resultados encontrados aqui certamente ajudam a compreender melhor as mudanças e dinâmicas da pesca e dos estoques pesqueiros do Brasil, ao longo dos últimos 60 anos, mas especialmente na região nordeste e podem ajudar a subsidiar decisões de manejo da pesca. Especificamente, agora pode-se concluir que a pesca não está sendo feita de maneira sustentável, vide a expansão geográfica da pesca que está acontecendo, e mesmo isto não está sendo suficiente para manter os rendimentos dos pescadores, fazendo com que este grupo já vulnerável fique mais vulnerável ainda