Do mundo da literatura à formação do leitor: a contribuição da leitura de contos para se discutir o bullying na sala de aula

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Medeiros, Lívia Cristina Cortez Lula de
Orientador(a): Amarilha, Marly
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/29014
Resumo: Este estudo investiga o modo como a prática sistematizada da leitura de textos literários pode propiciar uma reflexão sobre o bullying entre escolares. Defende-se a tese de que a leitura de textos literários, mediada pelo processo de discussão, contribui para suscitar a reflexão de sujeitos aprendizes sobre esse tipo de violência. Ressalta-se, entretanto, que o trabalho com os textos literários para alcançar tal objetivo, não significa, de modo algum, uma abordagem pragmática ou meramente utilitária da literatura, uma vez que a polissemia intrínseca a essa arte possibilita ao leitor diversas interpretações. A pesquisa respalda-se, metodologicamente, na vertente qualitativa, caracterizando-se segundo o paradigma de uma pesquisa com intervenção. Como instrumentos metodológicos, adotou-se a observação participante, o diário de campo, a análise de documentos institucionais, a entrevista e a gravação (em áudio e em vídeo) das sessões de leitura. O locus de sua realização foi uma escola pública do Município de Natal – RN (BRASIL), em uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental, com 24 alunos de faixa etária entre 10 e 12 anos, dentre os quais 20 foram os sujeitos efetivamente participantes. Na intervenção pedagógica, realizaram-se 10 encontros, sendo 9 sessões de leitura de contos literários clássicos e contemporâneos e 1 aula de pré-ensino de vocabulário. As sessões foram estruturadas a partir da andaimagem (GRAVES; GRAVES, 1995). O corpus foi composto pelas sessões de leitura de literatura – em que se focalizaram, principalmente, os momentos de préleitura e as discussões de pós-leitura – e pelas entrevistas finais com os sujeitos participantes. Sua análise ancorou-se em princípios da Análise de Conteúdos (BARDIN, 2010). Em termos do referencial teórico, contou com os saberes derivados dos estudos de Amarilha (2004; 2006; 2010); Bettelheim (2007); Compagnon (2009); Iser (1996); Yunes (1995, 2003; 2010); Zilberman (1989; 2003; 2015); Olweus (2006); Avilés (2002, 2005, 2006; 2011); Salmivalli (1999); Jares (2002, 2004, 2007, 2008); Debarbieux (2002), dentre outros. Os resultados da análise revelam que a mediação pedagógica, construída com base em questionamentos, foi de suma importância para que os sujeitos passassem a agir ativamente nas sessões de leitura e construíssem relações entre a violência na ficção e os casos de bullying vivenciados no ambiente escolar. Igualmente, ficou evidente a identificação dos sujeitos com as personagens e com as situações ficcionais narradas, o que propiciou o desabrochar de sentimentos, como a empatia, ao encararem a violência sofrida pelas personagens. E foi justamente essa empatia que os conduziu, por vezes, a um julgamento para além da ficção, fazendo-os examinar os posicionamentos dos próprios colegas, o que revela a potencialidade do texto literário em suscitar a reflexão fora de suas páginas. Esse encontro, mediado, do leitor com o texto promoveu, assim, uma reflexão sobre o mundo circundante, levando os sujeitos a construírem relações com a realidade. Também se constatou que conhecimentos sobre o bullying foram construídos e evidenciados, desde as características que lhe são inerentes até as formas de combatê-lo na vida real. A interface literatura-bullying mostrou-se nas respostas dos sujeitos, que expuseram as relações construídas entre a violência narrada nas histórias e o bullying. Constatou-se, por fim, que a literatura – por sua natureza humanizadora, formadora e emancipadora – contribui para que, por meio da discussão, se possa refletir e desenvolver novos olhares sobre a violência entre pares.