Sistemas agroflorestais em Santa Maria do Pará: características socioeconômicas, adoção e composição florística.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: RAIOL, Carlindo Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UFRA - Campus Belém
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1793
Resumo: Este trabalho teve como objetivo avaliar as experiências de sistemas agroflorestais comerciais multiestratificados estabelecidos em área de agricultores familiares no município de Santa Maria do Pará, enfatizando as condições socioeconômicas das famílias, limitações e oportunidades para o estabelecimento destes sistemas. Para obtenção de dados primários sobre o perfil do agricultor, sistemas de uso da terra, situação fundiária e força e divisão de trabalho familiar e, lançou-se mão de ferramentas empregadas no Diagnóstico Rural Rápido (DRR) e Diagnóstico Rural Participativo (DRP), como: entrevistas estruturadas aplicadas de forma individual e em grupo, observação direta com registro fotográfico e calendário agrícola. Participaram da pesquisa 32 famílias de agricultores, distribuídas em 18 comunidades, que estabeleceram 51 sistemas agroflorestais comerciais. A análise dos dados coletados foi tratada pela estatística descritiva e análise fatorial. A adoção de SAF comerciais pelos agricultores familiares é muito baixa, comparada a outros sistemas de uso da terra, praticados neste município. A origem geográfica, a participação em associação comunitária rural, a idade, a posse da terra e o tamanho do lote exercem forte influência no estabelecimento dos SAF em Santa Maria do Pará, mas não se tornaram barreiras para o estabelecimento destes sistemas. Os agricultores familiares com SAF encontram-se na fase mais produtiva da vida e em plena capacidade de sua força de trabalho. A mão de obra familiar representa a maior expressão no que diz respeito às atividades desenvolvidas nos sistemas agroflorestais estabelecidos em unidades de produção agrícola de agricultores familiares do município. A pesquisa revelou a supremacia da participação masculina na implantação, condução e gestão dos SAF, e a importância da mulher no processo produtivo, uma vez que ela participa de atividades importantes, como plantio, colheita dos SAF comerciais, bem como na implantação, condução e manutenção dos quintais agroflorestais e das árduas tarefas de dona de casa. O fator técnico-educacional, seguido dos fatores sócio-organizacional, percepção agroflorestal e fundiáriofinanceiro foram os mais relevantes para a adoção de sistemas agroflorestais no contexto da agricultura familiar em Santa Maria do Pará. A assistência técnica e a educação formal são decisivas para a adoção de SAF neste município. A adoção destes sistemas também foi afetada pela idade do agricultor, participação em organizações comunitárias, bem como pela percepção dos agricultores sobre a importância e as razões para o estabelecimento do SAF, posse da terra e disponibilidade de recursos financeiros próprios. Os financiamentos governamentais não foram decisivos para a adoção de SAF em Santa Maria do Pará. No entanto, estes financiamentos devem ser levados em conta em todos os programas governamentais para a adoção de SAF e outros sistemas sustentáveis de produção voltados para a agricultura familiar na Amazônia. Mesmo tendo incertezas em relação ao retorno financeiro dos sistemas agroflorestais, os agricultores familiares de Santa Maria do Pará acreditam que estes sistemas de uso da terra apresentam vantagens principalmente de ordem econômica, o que os estimulam a empregar recursos financeiros próprios para o estabelecimento e manutenção dos SAF. Os agricultores locais reconheceram a deficiência dos serviços de extensão rural, das políticas públicas relacionadas à educação formal, à posse da terra e aos programas governamentais, como o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO Especial), na agricultura familiar do município de estudo. Os SAF comerciais multiestratificados praticados em Santa Maria do Pará apresentam baixa diversidade de famílias botânicas, gêneros e espécies, e são manejados com baixo nível tecnológico. Os SAF são compostos principalmente de espécies frutíferas e culturas agrícolas de valor comercial e voltadas para a autoconsumação. O coco (Coccus nucifera L.), a pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), o caju (Anacardium ocidentale L.) e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum Chum.) são as frutíferas mais cultivadas, juntamente com as agrícolas como feijão caupi (Vigna unguiculata) e a mandioca (Manihot esculenta Crantz.). As espécies de maior interesse dos agricultores locais são as temporárias, mandioca (Manihota esculenta Crantz.), maracujá (Passiflora edulis Sims.), abacaxi (Ananas comosus L.); e as permanentes açaí (Euterpe oleracea Mart.), cupuaçu (Theobroma grandflorum Chum.) e pimenta-do-reino (Piper nigrum). A espécie madeireira preferida foi a teca (Tectona grands L. f.). O tamanho do lote não é uma barreira para a adoção de SAF no município de Santa Maria do Pará, uma vez que agricultores com pequenos lotes também estabeleceram SAF comercias. Os SAF, em sua maioria, são estabelecidos com recursos do próprio agricultor e com recursos oriundos de programas governamentais. Estes sistemas são importantes para a economia dos agricultores familiares e representam uma alternativa viável de uso da terra, desde que as dificuldades para a implantação e manejo dos mesmos sejam superadas. A ocorrência de pragas e doenças, a carência de assistência técnica e os problemas relacionados à comercialização, não se tornaram barreiras para a adoção dos SAF, porém devem ser priorizadas pelas políticas públicas no sentido de amenizar os problemas.