Interações geoquímicas na superfície de gleissolos no Estuário Amazônico.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: SILVA, Sérgio Brazão e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UFRA/Campus Belém
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1961
Resumo: As várzeas são terrenos baixos e mais ou menos planos que se encontram junto à margem de rios. São abundantes no estuário amazônico e apresentam grande variabilidade ambiental, com ampla diversidade de solos, vegetação, água de inundação e regime de inundação. A grande variabilidade de ambientes encontrados, no entanto, impõe a necessidade de desenvolvimento de estudos visando conhecê-los, para induzir seu aproveitamento e preservação. A fertilidade elevada destes solos se destaca em relação aos demais solos da Amazônia, com fertilidade baixa. Características regionais específicas, entretanto necessitam ser investigadas para compreender o exato mecanismo para a formação da fertilidade do solo, neste ambiente. Pesquisas iniciais apontavam prioritariamente para a contribuição da colmatagem de sedimentos para formação da fertilidade nestes solos. Para auxiliar na compreensão das transformações geoquímicas que afetam e contribuem para a formação da fertilidade nestes solos, se investigou as transformações geoquímicas na superfície de dois Gleissolos, correspondentes a dois ambientes distintos do estuário amazônico: uma várzea de água doce, no rio Guamá e uma várzea salina em ambiente de mangue, no rio Caeté. Paralelamente se avaliou as características do solo e sedimentos em suspensão na água dos rios que circundam as várzeas estudadas, o suspensato. A amostragem do solo, destinada à realização do experimento foi realizada na superfície dos solos estudados, correspondente à profundidade explorada nutricionalmente pelos vegetais. As amostras destinadas à caracterização do solo foram obtidas através de amostragem em seus horizontes, correspondendo seu primeiro horizonte à amostra destinada à realização do experimento. O suspensato foi obtido através de coleta da água dos rios próximos aos locais de amostragem, e deixados em decantação por três meses, após os quais foram separados do sobrenadante, centrifugados, separados novamente do sobrenadante, e secos em dessecador. A seguir foi realizada a caracterização mineralógica, tanto nos solos estudados, como nos suspensatos obtidos. Solo e suspensato também foram avaliados através de determinação química total, granulometria e de sua fertilidade. O estudo realizado, consistiu, na realização de dois experimentos, com 4 repetições cada, que promoveu inundação nos solos, em condição de laboratório, empregando água destilada, para evidenciar as transformações químicas que ocorrem, sem considerar a água local dos ambientes. Após inundação, amostras eram retiradas periodicamente e analisadas úmidas, obtendo os teores disponíveis de elementos relacionados à nutrição vegetal (P, K, Ca, Fe, Mn, Cu, Zn), valores de carbono orgânico e do pH e Eh. Em terceiro ensaio, a metodologia usualmente empregada para a avaliação da fertilidade de solos, que preconiza a análise no solo previamente seco, foi objeto de investigação, em comparação com metodologia empregada em diversos trabalhos neste tipo de solo, a qual emprega a determinação na amostra ainda úmida para proceder à análise, convertendo os resultados para solo seco empregando fator de correção. Este cuidado é empregado em diversos trabalhos neste tipo de solo, em virtude de após secos, se reverterem as transformações ocorridas, e assim ocorrer a possibilidade de informar resultado não correspondente às condições de campo. Nesta investigação, a variação de resultados na disponibilidade de nutrientes, que ocorre após a inundação foi avaliada pelas duas metodologias, tanto no Gleissolo Háplico, como no Gleissolo Sálico, em dois experimentos. Assim sendo, durante o período inundado, amostragens periódicas nas parcelas experimentais avaliaram as variações nas concentrações disponíveis de P, Ca, K, Fe, Mn, Cu e Zn, através das duas metodologias testadas. Os experimentos demonstraram que a inundação promove alterações profundas na fertilidade dos solos estudados, mas com diferenças relacionadas à sua condição regional. Os resultados obtidos expressam que a ocupação dos poros do solo pela água induzem a grande transformação no comportamento geoquímico do solo, influenciando na disponibilidade dos elementos estudados, no pH e Eh. O Gleissolo Háplico situado no rio Guamá alterou seu pH inicial de 4,69 para estabilizar em torno de 6,6 a partir do 8º dia. Da mesma forma seu Eh também decaiu substancialmente 322 mV para -337 mV durante 4 meses de inundação. Ocorreu grande acréscimo de Fe, P e Mn disponível para o solo. Em relação ao K, Ca, Cu, Zn e Fe, ocorreram pequenos acréscimos de valores disponíveis, entretanto com valores suficientemente adequados á nutrição vegetal, à exceção do ferro que adquiriu valores extremamente elevados. No Gleissolo Sálico, situado no mangue do município de Bragança, o comportamento ocorreu de forma semelhante, embora com escalas de intensidade diferente. A variação no pH não ocorreu de forma tão intensa neste solo, tendo se estabilizado entre 5 e 6, menores que no rio Guamá, mas com valores que impede que os micronutrientes se tornem indisponíveis com o tempo de inundação. Da mesma forma o Eh demonstrou que ocorre redução neste solo, mas não tão acentuada quanto ocorre no solo do rio Guamá, resultando em redução estabilizada em valores situados entre 200 e 300 mV. Este fato ajuda a explicar o acúmulo de matéria orgânica no perfil deste solo, acumulada por falta de aceptores de elétrons e dinâmica acentuada da matéria orgânica que este ambiente possui. Neste solo a disponibilidade de fósforo diminuiu com o tempo. Ambos os solos e suspensatos estudados apresentaram composição mineralógica semelhante com quartzo, illita, esmectita, caulinita, e o solo do rio Guamá apresentou ainda goethita. Nos suspensatos estudados, a alta fertilidade apresentada, superior que a dos próprios solos, indica a possibilidade de manutenção da fertilidade do solo, após deposições periódicas que ocorrem a cada maré. Associados à presença elevada de matéria orgânica e a presença de argilominerais 2:1 presentes no solo, estes fatores despontam como condição diferencial destes solos, principalmente dentre os solos comumente encontrados na terra firme. No terceiro experimento, referente à comparação entre a análise efetuada no solo seco e a análise efetuada no solo úmido, os resultados indicam que a resposta às transformações que se procedem após a inundação, é percebida em ambos os métodos testados, e que os métodos respondem de forma diferente para cada ambiente testado. Assim, a avaliação estatística aponta os elementos cálcio, no Gleissolo Háplico, e fósforo, potássio, manganês e zinco no Gleissolo Sálico, como indiferentes na escolha do método a ser utilizado em sua determinação. Em seguimento, os elementos fósforo, manganês e cobre no Gleissolo Háplico e o cálcio no Gleissolo Sálico são elementos que apresentaram vantagem estatística para a análise no solo seco. Os elementos potássio, ferro e zinco, no Gleissolo Háplico e Ferro e cobre no Gleissolo Sálico apresentaram resultados favoráveis à determinação no solo úmido. No entanto, embora ambos os métodos possam ser utilizados, a análise no solo úmido é recomendada, pelo acompanhamento das transformações, que são percebidas em detalhes, em especial para os resultados de teores inferiores, comuns no início do período de inundação. Os três estudos realizados nos solos do estuário Amazônico demonstram que as alterações geoquímicas que ocorrem nestes solos após ter seus poros preenchidos com água, não procedem da mesma forma, embora sejam solos da mesma classe pedológica e possuam proximidade geográfica. Fatores regionais influenciam os resultados como características mineralógicas, a água de inundação, biologia do local e outros fatores. Embora a liberação de nutrientes ocorra de forma específica aos solos estudados, as alterações se apresentaram benéficas, proporcionando condições adequadas ao desenvolvimento vegetal. O suspensato, que se apresentou em ambos os locais estudados, com fertilidade elevada, possibilita assim, a manutenção dos altos índices de fertilidade encontrada nestes solos, após ação das marés, quando é depositado no solo. A presença de argilominerais 2:1, representou um diferencial para estes solos, pois estes minerais são ausentes na superfície de solos de terra firme nos solos do entorno, e contribuem para a formação de índices elevados de CTC, que ainda recebe acréscimo devido aos teores elevados de matéria orgânica existente, em especial no Gleissolo Sálico. São condições distintas em relação aos solos nesta região, que não contam com fatores que proporcionem CTC elevada, assim como fatores que proporcionem a manutenção desta fertilidade, pela adição de material fértil de forma periódica.