Morfologia da cavidade orofaríngea e glândula de cheiro do muçuã (Kinosternon scorpioides scorpioides Linnaeus, 1766) de vida livre.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: BEZERRA, Andréa Magalhães
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UFRA - Campus Belém
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://repositorio.ufra.edu.br/jspui/handle/123456789/1713
Resumo: O muçuã, como é conhecido o Kinosternon scorpioides scorpioides, é o único representante da família Kinosternidae no Brasil. É um quelônio com tamanho médio de 15cmdecomprimento da carapaça quando adulto. De hábito semiaquático, sua dieta em vida livre inclui uma ampla variedade de alimentos de origem vegetal e animal, sendo considerado onívoro ou generalista oportunista. Entretanto, para resistir à seca do verão, quando as condições climáticas e alimentares são desfavoráveis, o muçuã permanece enterrado sob o solo, em estado de baixo metabolismo e consumindo reservas energéticas, num mecanismo conhecido como estivação. Outra peculiaridade do muçuã é secretar uma substância que exala um odor forte e característico, produzida por glândulas de cheiro, que tem por finalidade repelir predadores, mas também pode ser usado como atrativo sexual. Apesar do mau cheiro que exala, a espécie é apreciada como iguaria na culinária da região norte do Brasil, onde a exploração desordenada tem causado declínio substancial nas populações naturais. O presente estudo objetivou descrever os aspectos morfológicos da cavidade orofaríngea e da glândula de cheiro do muçuã. Os animais foram coletados em áreas de ocorrência natural, na Mesorregião N do Marajó no estado do Pará/Brasil. A microscopia de luz revelou que quase todo o epitélio de revestimento da cavidade orofaríngea é do tipo estratificado mucoso não queratinizado, contendo muitas células mucosas e numerosas glândulas de muco epiteliais ao longo de toda língua, palato e assoalho da cavidade oral, com exceção da região próxima a ranfoteca, que é constituída por tecido epitelial estratificado pavimentoso queratinizado contendo diversos botões gustativos. Não foi observada a presença de glândulas salivares. Em microscopia eletrônica de varredura verificou-se que todo o epitélio da cavidade orofaríngea apresentou poros, sulcos, micro vilosidades e micro cristas. Foram encontradas em todos os espécimes analisados, independente de sexo, quatro glândulas de cheiro, sendo dois pares axilares e dois inguinais, estruturalmente semelhantes entre si. Cada glândula consistiu em um lóbulo único secretor holócrino com secreção contendo células formadas por dois tipos de vacúolos secretórios. Os do tipo 1 coravam de vermelho, eram os de maior tamanho e os mais frequentes, além de serem positivos para o Ácido Periódico de Schiff (PAS), sugerindo serem um complexo glicoproteico e os do tipo 2, translúcidos, de menor tamanho e menor número e negativos para o PAS. A secreção produzida era conduzida por um ducto único através de canal ósseo existente na ponte que liga a carapaça ao plastrão e excretada por um poro exterior localizado no respectivo escudo que dá nome a glândula. Por ser uma espécie semiaquática, a presença de botões gustativos na região próxima a ranfoteca e a ausência de glândulas salivares corroboram com o que é conhecido sobre o comportamento alimentar para espécie, que apreende o alimento utilizando a mandíbula, para percepção de sabores, e o arrasta para dentro da água, para facilitar a deglutição. Em animais de vida livre, a ausência de água durante o período de estiagem dificulta a ingestão dos alimentos, e esse deve ser um dos motivos pelo qual a espécie passa pelo processo de estivação, utilizando somente suas reservas energéticas. Ressalta-se que para facilitar o manejo em cativeiro, a espécie deve ter seu alimento oferecido dentro ou próximo a lâmina d’água. Os odores produzidos pelas glândulas de cheiro devem influenciar o comportamento de machos e fêmeas em vários aspectos e merecem atenção, principalmente em animais mantidos em cativeiro. Deve-se levarem consideração a densidade e a razão sexual, principalmente durante o período reprodutivo, para que não haja interações agonísticas. Embora a abertura para criação em cativeiro proporcionada pela legislação seja extremamente importante, é necessário o desenvolvimento de pesquisas que preencham as lacunas do conhecimento sobre a espécie e que viabilizem sua criação para produção.