Michel Foucault e a constituição da subjetividade como estética da existência: o cuidado de si, a coragem da verdade cínica e suas reverberações na arte do século XIX.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Meireles, Tulipa Martins
Orientador(a): Araldi, Clademir Luís
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Departamento: Instituto de Filosofia, Sociologia e Política
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/7568
Resumo: A presente tese de doutorado tem por objetivo defender que a constituição da subjetividade no pensamento do filósofo Michel Foucault (1926-1984) é compreendida como estética da existência. Ao pensar nas relações entre o sujeito e a verdade, por meio do cuidado de si, Foucault inaugura uma filosofia aberta para as formas de viver e para o reino das artes. A estética da existência é uma temática que está presente nos últimos escritos do autor e ela se refere a uma forma específica de compreender a filosofia. Essa forma parte da prerrogativa segundo a qual a filosofia é uma arte de viver e ela corresponde a um âmbito ético-estético porque se refere ao ethos e ao estilo de vida. Não se trata de uma categoria epistemológica, mas de um projeto de constituição de si mesmo. Sustentamos, por esse viés, que a filosofia contemporânea perfaz um pensamento ético-estético que está arraigado na vida e nas formas de viver. No curso de Michel Foucault pronunciado no Collège de France, em 1984, A coragem da verdade, o princípio do cuidado de si (epiméleia) descreve uma alternativa à história da subjetividade: a filosofia como estética da existência em oposição à filosofia como metafísica da alma. Nessa história, o cinismo antigo foi a prática filosófica que melhor representou esse aspecto, porque esteve preocupada, sobretudo, com os atos nos quais o sujeito, ao manifestar a verdade, era reconhecido como alguém que dizia a verdade – mas uma verdade cínica. Diferente da concepção clássica da verdade, alicerçada em um mundo inteligível, a verdade cínica reverte seu sentido até transformar-se em insolência e grosseria, pois inscreve a verdade no terreno sólido da vida cínica – uma vida-outra, uma vida escandalosa. O cinismo, como forma de vida que manifesta e produz a verdade escandalosa não foi uma figura particular do século IV a.C., mas uma atitude recorrente ao longo da história da filosofia como estética da existência, mas foi além dela. A arte do século XIX foi um veículo do cinismo, um meio transmissor autêntico e genuíno dessa concepção filosófica. De Charles Baudelaire (1821-1867) ao Impressionismo, a arte manifestou o antiplatonismo e o antiaristotelismo da cultura. Em Édouard Manet (1832-1883), a arte foi o lugar-outro da verdade e o que ela desvelou foi a vida-outra. Por esse prisma compreendemos que Michel Foucault, ao conceber a verdade pela ótica cínica coloca para o pensamento Ocidental a preocupação pelas formas de viver, pelo estilo de vida e pela ética como estética da existência, donde se faz necessário indagar pela primazia da arte como lugar-outro da própria verdade cínica.