O feminismo em outros termos: da crítica ao sujeito fundacional feminista à ética da precariedade em Judith Butler.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Arbo, Jade Bueno
Orientador(a): Chagas, Flávia Carvalho
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Departamento: Instituto de Filosofia, Sociologia e Política
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/7548
Resumo: A tradição filosófica, epistemológica e política que podemos hoje chamar de feminista foi construída sobre as bases mutáveis do conflito e da contestação, composta por vozes divergentes que a todo o momento se embatem e se desafiam. A cada tentativa de delimitar seu sujeito e suas demandas, o feminismo hegemônico é interpelado por aqueles que invariavelmente exclui; é chamado a perceber as limitações e localizações de suas pretensões universais. Encontramos nas críticas de Judith Butler, filósofa que no final dos anos 1980 inicia sua análise dos problemas de gênero do feminismo, tanto um fio condutor quanto um enquadramento para este problema: se as fundações sobre as quais o feminismo se sustenta - se o sujeito em nome do qual se pretende falar e a partir do qual as demandas morais feministas são elaboradas – se estabelece como local de disputa, e, por consequência, em constante revisão, o que resta ao feminismo? Como mantê-lo vivo, relevante e representativo? De que forma embasar e prosseguir com a ação teórica e política que zela pelos interesses das mulheres e, ao mesmo tempo, permanecer dolorosamente consciente das exclusões, das contradições e das alianças que fazemos e deixamos de fazer para que essa ação seja possível? A hipótese deste trabalho bifurca-se em duas: a primeira é que a desconstrução do sujeito fundacional do feminismo tanto não representa o fim do feminismo como constituise, na verdade, em um passo essencial para que permaneça relevante. O sujeito do feminismo como aberto, como constante campo de contestação e debate, representa uma solução ao problema de representação do feminismo, e não sua derrocada. No entanto, ao renunciarmos a uma base identitária firme – cuja ontologia é, desde o início, ilusória –, somos deixados com uma lacuna: em torno de que nos reunirmos? Qual o elemento, se não o identitário, que permite não apenas as descrições feministas de mundo, mas também suas reivindicações normativas? A nossa segunda hipótese é a de que a resposta para esse questionamento está em uma ontologia fundada não na identidade, mas em uma “nova ontologia do corpo”, cuja vulnerabilidade constitutiva é partilhada por todos. Dessa condição precária inescapável, Judith Butler deriva uma ética da precariedade que, acreditamos, permitiria ao pensamento feminista lidar com as contradições das inúmeras identidades que formam os sujeitos, identidades que não apenas vão além do gênero, mas que informam como o gênero é experienciado – raça, classe, nacionalidade, etc. – e dessa forma construir um pensar e um agir ainda mais permeável pelas diferentes e imprevisíveis intersecções que surgem do encontro de sujeitos diversos em busca de uma vida vivível.