Crônicas de Terra e Água: arqueologia espacial e paisagens cosmológicas dos abrigos/grutas com sepultamento Jê do Sul.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Lima, Luiz Phellipe Silva de
Orientador(a): Carle, Cláudio Baptista
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pelotas
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Departamento: Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/6984
Resumo: Esta dissertação tem como propósito ser um estudo unificado dos sítios em abrigos e grutas com sepultamentos no contexto da arqueologia Jê do Sul. A partir da revisão bibliográfica de 51 jazigos arqueológicos e os dados levantados sobre eles, tratando-os como uma unidade, as cronologias desses cemitérios foram analisadas em comparação à ocupação Jê do Sul. Criei mapas para realizar análises espaciais e da paisagem desses sítios através do geoprocessamento. Realizo analogias etnográficas para entender o contexto dos artefatos nas práticas funerárias. E, por último, identifico como esses sítios e suas paisagens configuram e materalizam as cosmologias Kaingang e Laklãnõ. Esses grupos supracitados são os descendentes diretos desse passado arqueológico. A análise cronológica e espacial indica que, no período anterior ao ano 1000 A.D., esses cemitérios estão concentrados na região da borda oriental do Planalto Meridional, configurando uma prática Jê do Sul oriental, que são os ancestrais diretos dos Kaingang e Laklãnõ e, indica também que, após 1000 A.D. há a dispersão desses grupos, demonstrado pelos sítios arqueológicos, rumo ao ocidente do território. Aparecem nesses vestígios do período posterior a 1000 A.D. mudanças nas práticas funerárias, como: o aparecer do fogo e da cerâmica no contexto mortuário. Conforme os estudos espaciais e da paisagem, verifiquei que em 88% dos casos há cascatas, rios ou arroios in situ ou próximos, demonstrando a agência dessas paisagens e a intencionalidade na busca por esses fatores na paisagem para configurar o lugar como cemitério. Ao estudar as cosmologias Jê do Sul, em relação aos Kaingang, o contexto dos abrigos e das grutas presentifica a morada de Kamé e Kanhru, seus heróis mitológicos e fundadores, além de serem também fronteiras sociais entre os vivos e os mortos, assim como representam entradas para o nügme, mundo dos mortos Kaingang. A água materializa as águas diluviais e da morte, que, principalmente, mataram Kamé e Kanhru no dilúvio mítico. Este contexto na paisagem também presentifica os fundadores Laklãnõ: as grutas e os abrigos materializam os klẽdo, que saíram da montanha, enquanto as cascatas e os rios materializam os vãjẽky, que saíram da água.