“Eu vivo na floresta/Eu tenho os meus ensinos” : as experiências com as Plantas Professoras entre o Padrinho Sebastião Mota de Melo e suas companheiras e companheiros no Santo Daime

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: SILVA, Nathalia Cavalcanti da
Orientador(a): FREITAS, Alexandre Simão de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Educacao
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/49584
Resumo: A religião do Santo Daime nasce da ressignificação ritualística em torno do uso da bebida indígena amazônica nomeada diversamente como Yajé, Mariri, Nixipae, Caape ou Ayahuasca. A beberagem em questão, utilizada por diversas populações da região amazônica, é feita através de duas plantas: o cipó Banisteriopsiscaapi, e a folha Psychotriaviridis e água, os quais, dentro da doutrina religiosa foram renomeados como Jagube (cipó) e Chacrona ou Rainha (folha). Nesse contexto, a problemática dessa Tese questiona como, entre os anos de 1970 e 1980, um dos principais líderes do Daime, Sebastião Mota de Melo, o ―Padrinho Sebastião‖ e suas seguidoras e seguidores articularam um conjunto complexo de saberes que tem como foco as experiências formativas que centralizam o Santo Daime enquanto veículo vital de processos educativos. Buscou-se, assim, analisar as aprendizagens na vida dos sujeitos afetados por essa experiência. Teoricamente agenciamos o debate em torno da epistemologia ayahuasqueira (ALBUQUERQUE, 2011), desdobrando-a para pensar, do ponto de vista histórico-educacional, possíveis contribuições do Santo Daime para a elucidação de aspectos sensíveis da formação do humano em conexão com as chamadas Plantas professoras. A metodologia de caráter historiográfico articulou pressupostos oriundos da micro-história italiana (REVEL, 1998; GINZBURG, 1989, 2006 e 2008), envolvendo pesquisa bibliográfica com fontes documentais e história oral para a construção de narrativas produzidas na interface com as fontes escritas. O tratamento analítico dos dados seguiu algumas recomendações propostas por Thompson (2002), Bosi (1995 e 2003) e Meihy (1996). Como resultado, as narrativas compiladas acerca do trabalho desenvolvido pelo Padrinho Sebastião, ao integrar e articular diversas linhas religiosas e espirituais, através do uso das chamadas Plantas professoras, desdobrou uma nova forma de olhar e se relacionar consigo, com o outro e com o mundo por meio do estabelecimento de práticas formativas peculiares que desde então vem fornecendo sentido à vida de inúmeras pessoas. As Plantas professoras são apreendidas, portanto, enquanto elementos catalisadores e condutores de uma experiência espiritual e de vida comunal ancorada em processos sutis de educação e formação do humano cunhados no tempo que, situados para além dos muros escolares e dos processos pedagógicos cognitivos, amplia consideravelmente nossa visão da educação. As conclusões elucidam aspectos que evidenciam a urgência de repensarmos a produção de conhecimento historiográfico para além dos espaços e dimensões tradicionalmente privilegiados, defendendo que a produção de conhecimento pode ocorrer em relações sensíveis com outros sujeitos e outros mundos como aqueles revelados pelas Plantas professoras.