Homem não chora: um estudo sobre viuvez masculina em camadas médias urbanas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2009
Autor(a) principal: Maria Lago Falcão, Tânia
Orientador(a): Chambliss Hoffnagel, Judith
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/519
Resumo: Viuvez. Palavra que traz embutida uma ausência. Fenômeno que chega na vida de alguém sem fazer parte, previamente, do seu projeto de vida, e que por isso tende a trazer modificações inesperadas e provavelmente jamais imaginadas. Dentre todos os eventos que ocorrem com as pessoas durante seu ciclo de vida, aquele relacionado com a morte de alguém muito próximo afetivamente é talvez o mais traumático, deixando as marcas mais profundas. Em grande parte das investigações onde a viuvez é assinalada, isto é feito de forma incidental, dentro de trabalhos cujo foco central é a velhice e as mulheres, além de serem oriundas predominantemente da área biomédica e/ou saúde mental. No Brasil, a pesquisa em viuvez tem contemplado majoritariamente o gênero feminino, havendo núcleos de estudos em algumas universidades brasileiras, cujas linhas de pesquisa se referem a idosas. Estudos e publicações sobre viuvez, como problema enfrentado também por homens, são bastante escassos em todos os campos do conhecimento científico. É aqui que se insere esta tese: um estudo sobre viuvez masculina em camadas médias urbanas. Para tentar dar conta da proposta, centro a investigação nos procedimentos de reorganização de vida de homens residentes na grande Recife, no Nordeste do Brasil, após a morte da esposa/companheira. Os objetivos da pesquisa buscavam descobrir as reações imediatas, mediatas e tardias desses homens, as eventuais mudanças nos modos de vida e relações sociais, os meios de suporte econômico, de serviços, pessoal-social e pessoal-emocional utilizados, a existência (ou não) de prescrições sociais ligadas à viuvez masculina e as representações que regem esse universo, em nosso meio. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista narrativa, aplicada em encontro que se realizou, em geral, na residência ou no local de trabalho do enviuvado. O número total de 20 homens compôs a amostra da pesquisa, com idades variando de 36 a 82 anos, e com tempo de viuvez de seis meses a 34 anos. A vivência da doença e/ou morte da esposa foi quase sempre acompanhada integralmente pelo marido. Alguns dos enviuvados recasaram; outros optaram por não fazê-lo; alguns tinham passado por transformações pessoais; a maioria assumiu a administração total da casa. A criação dos filhos, o trabalho e a religiosidade são os recursos de maior impacto para uma adequada adaptação à nova situação. Os principais suportes utilizados vêm das redes sociais, sendo que empregada doméstica e amigo íntimo ocupam uma posição importante entre os apoios recebidos. Todas as histórias narradas mostram um teor de emoção que geralmente os estereótipos culturais e o senso comum negam aos homens. Faz-se a constatação que homens choram, sim: nas entrevistas, a maioria fica com a voz embargada, outros choram livremente, a ponto de não conseguir falar. As emoções, do vivido ontem e da saudade hoje, estão bem presentes. Enfim, esta tese fala de dor, sofrimento e morte, mas também de vida, felicidade e amor. Mas, fundamentalmente, busca contribuir, a partir de experiência local, para a ampliação e legitimação do campo da Antropologia das Emoções, no país