A cultura como paradoxo : representações da mulher no discurso jornalístico (1888-1910)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: SILVA, Aguimario Pimentel
Orientador(a): GRIGOLETTO, Evandra
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/44555
Resumo: As conexões entre discurso e cultura tornaram-se, nas últimas décadas, o foco de numerosas investigações, situadas em diferentes campos do conhecimento, que demonstram a importância do diálogo interdisciplinar para a apreensão do fenômeno. Este trabalho apresenta uma leitura dessa conexão a partir da intersecção entre os campos da Análise do Discurso francesa e dos Estudos Culturais britânicos, ambos de orientação materialista. Do primeiro campo, tomam-se especialmente as contribuições teóricas de autores como Michel Pêcheux, Eni Orlandi e Alice Krieg-Planque sobre as relações entre língua e história; do segundo, as propostas de Raymond Williams, Stuart Hall e Richard Johnson sobre as relações entre cultura e comunicação. O objetivo é compreender o papel exercido pela cultura na construção das representações da mulher no discurso jornalístico. A investigação tem por objeto um conjunto de três periódicos femininos produzidos na cidade de Penedo (AL) na transição do século XIX para o século XX. A cultura é tomada enquanto uma estrutura que funciona entre a reprodução e a transformação da realidade. Para a análise das representações femininas, considera-se a existência, no período, de um discurso maternalista construído a partir do saber religioso e do saber médico. Além disso, num gesto transversal, a imagem dominante do “belo sexo”, como uma forma de definição da mulher, é identificada como a base sobre a qual se constroem os dizeres da imprensa, seja para reforçá-la ou para contestá-la. As análises apontam dois funcionamentos discursivos distintos na imprensa feminina penedense. O primeiro deles, marcado principalmente no periódico A Palavra (1888-1898), caracteriza-se por uma supervalorização da imagem da mulher-mãe, defendendo o seu papel na formação dos futuros cidadãos da pátria, mas a partir de uma determinação de traços marcadamente moralizantes. O segundo funcionamento, localizado sobretudo nos jornais A Flor (1909) e Alvorada (1910), caracteriza- se pela contestação do traço religioso atrelado à imagem da mulher, buscando significá-la numa associação com outros papéis, mormente aqueles vinculados às lutas sociais do período, a exemplo do movimento sufragista e das reivindicações pelo acesso ao mundo do trabalho. A partir desse funcionamento contraditório dos discursos do gênero, argumenta-se em favor da consideração da cultura como um objeto marcado por um funcionamento paradoxal, destacada a sua importância no estabelecimento dos embates políticos que se processam através das lutas de sentidos em um dado momento histórico.