Questões de norma linguística no domínio jornalístico: embates discursivos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: CAVALCANTI, Laura Jorge Nogueira
Orientador(a): AZEVEDO, Karina Falcone de
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/13286
Resumo: Neste estudo, nos debruçamos sobre as notícias veiculadas em três jornais online de prestígio – Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo – a respeito de um evento: a adoção do livro didático Por uma vida melhor para alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), no início do ano de 2011. O livro, então aprovado através da primeira edição do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) direcionado ao EJA, tornou-se centro de um debate nacional que abrangeu temas desde o conteúdo apresentado pelo material, o ensino de língua portuguesa, noções de língua etc. O debate envolveu vários participantes e representantes de diferentes instâncias sociais, governamentais e acadêmicas, que, ao longo da discussão, foram formando dois grupos claramente definidos em torno da questão: um grupo hegemônico (representado por aqueles que não apoiaram os postulados pedagógicos e linguísticos representados pelo livro) e um grupo contra-hegemônico (aqueles que apoiaram os postulados pedagógicos e linguísticos representados pelo livro). Tendo em vista o alcance das matérias veiculadas online (sem restrição de tempo ou espaço) e o poder discursivo do domínio jornalístico, consideramos importante analisar estes textos e o discurso neles tecido em relação ao material didático. Partimos de uma reflexão acerca das bases teóricas e pedagógicas que informaram os argumentos de ambos os grupos, revisando estudos de autores da Linguística Aplicada como Kleiman (1995; 2000; 2001), Bagno (2002), Marcuschi (in MARCUSCHI e DIONÍSIO 2007) e Kalantzis e Cope (2003). Inseridos numa perspectiva de Análise Crítica do Discurso, voltamo-nos aos aspectos sociais, culturais e políticos que também tiveram e têm influência em políticas linguísticas e educacionais. Consultamos Van Dijk (2000) para obter uma melhor noção de como ideologias formam grupos sociais, e vice-versa, revisando também com Hoffnagel (2010), Hall (1997) e Fairclough (2001; 2003) como diferentes fatores externos à disciplina “Português” podem vir a afetar a prática de ensino de língua materna e os discursos que circulam acerca do tema. O papel dos jornais no debate foi analisado tendo em vista a natureza das instituições jornalísticas, seu funcionamento enquanto entidades lucrativas, e, principalmente, seu alinhamento ideológico com o grupo hegemônico de poder. Para tanto, apoiamo-nos principalmente nos estudos de Van Dijk (1988) e Falcone (2003; 2008). Para a análise dos textos noticiosos, partimos de uma reflexão sobre a sociocognição e como o conhecimento sobre o mundo e as coisas do mundo passa por uma elaboração semiótica mediada discursivamente, por exemplo, por textos escritos. Com Van Dijk (2010; 2012), refletimos sobre elementos de natureza sociocognitiva que se apresentam como uma interface na relação entre sociedade e discurso – modelos mentais, representações sociais e modelos de contexto – identificando a base teórica em que construímos nossa visão de discurso, texto, contexto, e sua relação com instâncias e práticas sociais. Ao identificar estratégias linguístico-cognitivas e de organização das notícias na elaboração dos textos noticiosos, pudemos analisá-las de modo a obter pistas acerca dos sentidos sendo construídos nos discursos dos jornais. Identificamos que o domínio jornalístico atuou de forma ativa na elaboração de um discurso que privilegiava um modelo (dominante) de educação linguística em detrimento de outros, exibindo assim seu poder discursivo e seu alinhamento com o grupo hegemônico de poder. Finalmente, demonstramos, através de nossa análise, como isso foi atingido, de modo a configurar manipulação e abuso de poder (VAN DIJK 2010) por parte dos veículos aqui analisados.