Corpos femininos entre a natureza e a cultura : uma análise das articulações discursivas relativas à reprodução medicalizada

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: SILVA, Maria Sheila Bezerra da
Orientador(a): FERREIRA, Jonatas
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Sociologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/43619
Resumo: Pela possibilidade de maior controle sobre a decisão da maternidade, as Tecnologias de Reprodução Assistida (TRA) têm sido compreendidas por alguns segmentos sociais, a exemplo da corrente feminista liberal, como recurso que amplia a esfera dos Direitos Reprodutivos (DR) das mulheres e, consequentemente, como aliadas na reafirmação de valores sociais defendidos pelo movimento feminista, em que às mulheres estaria reservado o direito de determinar sua identidade sexual e controlar seu próprio corpo. Em torno dessas e de outras questões, têm se erigido controvérsias apontadas eminentemente pela corrente feminista radical que chama a atenção, no contexto da medicalização da reprodução, para: a hipervalorização da ciência e do poder médico; os padrões heteronormativos de reprodução nos quais se apoiam tais biotecnologias; a recorrente redução das mulheres à condição de detentoras de corpos naturalmente predispostos à maternidade; as TRA como importantes frentes de expansão e acumulação do capitalismo e, por fim, o questionamento do uso das TRA como DR, por se tratar de um recurso de caráter experimental, dispendioso e de conhecidos e desconhecidos riscos à saúde das mulheres. Diante de tais posicionamentos, esta tese se debruçou na análise das forças que disputam a hegemonia em torno do significado das TRA tendo por referencial empírico a Fertilização in Vitro (FIV). Os desdobramentos estiveram na identificação das regularidades e dispersões discursivas em torno do significado do sacrifício e do sofrimento como construtos de feminilidade e reprodução no contexto da medicalização da reprodução e, ainda, na análise de como a articulação entre Estado, Ciência Médica e Mercado têm repercutido nos discursos que as mulheres produzem acerca de si mesmas e de suas experiências pessoais ao buscar a FIV. A análise de documentos, a realização de entrevistas e o relato etnográfico levaram às especificidades dos discursos das “tentantes” (treze, no total) que fizeram a FIV nos serviços (privado ou público) de Reprodução Assistida da cidade de Recife, dos discursos dos maridos (quatro, no total), do Estado, da ciência médica (três médicos) e da indústria médico-farmacêutica, a fim de problematizar suas articulações. A partir de tais articulações e dos pontos nodais identificados nos discursos analisados, a principal inferência desta tese é que as fissuras ou dispersões provocadas pelos elementos apontados, acima de tudo, pelas feministas radicais, não têm ameaçado a hegemonia da maternidade biológica. Pelo contrário, a regularidade nos discursos em torno dos sacrifícios e sofrimentos como construtos de feminilidade e reprodução, em consonância com o discurso liberal da potencialização das escolhas reprodutivas das mulheres pelas TRA, tem reforçado as concepções em torno da “mulher-mãe”, que tudo faz e que todos os riscos (conhecidos e desconhecidos) assume em nome do filho. Fortalece a concepção da mulher que toma para si a condição de mãe antes mesmo de sê-la, ou mais propriamente da mulher que é, em si mesma, a memória daquilo que “deve” ser esquecido, mas que as tecnologias da reprodução não deixam esquecer.