Loucos nas ruas : um estudo sobre o atendimento à população de rua adulta em sofrimento psíquico na cidade do Recife

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Maria da Cunha Albuquerque, Cintia
Orientador(a): de Lourdes Meira Cordeiro, Rosineide
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/8283
Resumo: A concretização deste trabalho só foi possível devido à existência de tantas histórias de vida marcadas pelo estigma da loucura e pela condição de vivenciá-la nas ruas da cidade do Recife. É pela preocupação e cuidado com essas histórias que este trabalho se justifica e ganha sentido, propondo-se a refletir sobre a temática do direito e acesso à saúde da população de rua em sofrimento mental. Mais especificamente, buscando compreender como os serviços de assistência social e saúde mental estão acolhendo a demanda de sofrimento psíquico que acomete pessoas adultas que moram nas ruas da nossa cidade. Ao trabalhar com População de Rua colocamos em cheque muitos dos conceitos imprescindíveis para o funcionamento normal e correto dos serviços, pois historicamente as contingências e realidades desta população não vêm sendo levadas em consideração. Para alcançar tais objetivos, foram escutadas diversas vozes e versões sobre três histórias de vida de pessoas em sofrimento psíquico que vivem nas ruas da cidade do Recife. Narrativas apresentadas por familiares, profissionais, exvizinhos foram ouvidas e refletidas, na tentativa de entender o percurso desde o início do sofrimento, a ida para as ruas e as alternativas construídas para a resolução de cada caso. Procurei compreender os diversos posicionamentos e as diferentes versões das pessoas envolvidas em cada caso escolhido, buscando entendê-los nos endereçamentos do diálogo. Na narrativa dos familiares, procurei as explicações e sinais para o início do sofrimento psíquico de cada usuário, bem como os motivos que os levaram a sair de casa e se distanciarem de suas famílias; com os profissionais do SESR, as entrevistas tiveram como foco a situação encontrada no primeiro atendimento na rua e os caminhos percorridos junto a cada usuário no seu processo de atendimento; com os profissionais dos Caps e das Casas de Acolhida do Iasc, quis saber como cada usuário chegou e foi acolhido naquele serviço, qual a avaliação feita de cada história de vida e que encaminhamentos foram construídos para solucionar cada caso. Dessa forma, foram escutadas diversas versões e opiniões sobre as referidas histórias, o que permitiu a construção de uma outra versão para análise, que será aqui apresentada. Essa, trouxe um leque de possibilidades e questionamentos sobre o cuidado em saúde mental oferecido à população em situação de rua na nossa cidade. Algumas questões saltaram aos olhos, que foram: a transferência da responsabilidade pelo cuidado do Estado para a família; a exigência de ter que sair das ruas, possuir referência familiar e domiciliar para iniciar o tratamento em saúde mental; e, por fim, a (im)possibilidade de compartilhamento da responsabilidade pelos moradores de rua pelas políticas de Saúde e Assistência Social da nossa cidade. Para que o atendimento oferecido à população de rua em sofrimento mental em Recife consiga ser efetivado de forma tal que respeite as especificidades dessas pessoas, parece necessário que ocorra o estranhamento dos profissionais e serviços frente às condições dessas pessoas que vivem nas ruas, ocasionando a desnaturalização de conceitos e pré-requisitos já estabelecidos, pois só assim será possível a invenção de novas e diferentes formas de atenção e cuidado para com a População de Rua. Por fim, defendo que o respeito às diferenças e a garantia universal e integral de proteção social, tão presentes nos discursos e nas leis vigentes em nosso país, precisam ser ampliados para qualquer grupo social, mesmo que ele desorganize e se contraponha às nossas certezas e convicções sobre a melhor forma de estar no mundo