Histórias indígenas e mitos restauradores : os Potiguaras entre santos, festas e ruínas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: BRAGA, Emanuel Oliveira
Orientador(a): REESINK, Edwin Boudewijn
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/39970
Resumo: São Miguel é o padroeiro do povo Potiguara. Surgido no “Tapuio”, na mata, o índio-anjo- aparição-imagem imemorialmente protege as famílias, as aldeias e as terras indígenas. Depois de morto, ressuscitado e tornado imagem, o arcanjo guerreiro foi guardado em uma igreja na aldeia Vila São Miguel, Baía da Traição, Paraíba. Como retribuição aos milagres operados pelo santo, os caboclos organizam novenários, procissões e festas em sua homenagem. Nos anos 1970, a imagem original foi levada (em rapto ou procissão) para uma capela localizada na aldeia São Francisco, dividindo as celebrações do padroeiro. Há séculos missionários e a “Igreja” intentam disciplinar e reorganizar as devoções dos Potiguara a São Miguel. Entretanto, na festa do povo, antigos ritos como o acendimento de velas nas velhas paredes da igreja da aldeia São Miguel, as novenas em um latim com sotaque local na capela da aldeia São Francisco e os excessos “mundanos” das quermesses e forrós, revertem a formalidade da sacralidade católica em nome de tradições imemoriais mais profundas. Desde a década de 1970, agentes eclesiais, indigenistas e preservacionistas buscam junto às instituições de patrimônio (Iphaep e Iphan) o tombamento e a “restauração” das ruínas da igreja potiguara de São Miguel. Tombada pelo Estado da Paraíba em 1980, a igreja (atualmente em ruínas) nunca foi reconhecida como patrimônio nacional, mesmo sendo um “bem imóvel religioso”, objeto predileto dos processos de reconhecimento patrimonial, com vasta documentação de viés colonialista e católico da “história oficial”. Os impasses do reconhecimento da igreja potiguara de São Miguel como patrimônio brasileiro, em comparação com outros processos de tombamento e registro de bens referenciados por grupos indígenas e afrodescendentes, evidencia cosmovisões do Iphan diante de mundos “não brancos” que estabelecem dicotomias e hierarquias entre as ideias/práticas civilização material x comunidades (primitivas/ tradicionais/ étnicas/ populares) do imaterial. A existência de santos e igrejas indígenas é reiteradamente ignorada e rechaçada nos processos de tombamento nacional. Estereotipados como seres a-históricos, pré-históricos ou de estória oral, indígenas não seriam capazes de edificar monumentos, estando fadados a compor paisagens naturais, marcar territórios com vestígios arqueológicos e repetir espontaneamente manifestações “imateriais”. Histórias de São Miguel das aldeias, do templo potiguara construído em sua homenagem e de outros monumentos indígenas descritos na presente tese desestabilizam e revertem os oficiais falsos históricos das políticas de patrimônio aqui e alhures.