Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
BIONI, Amanda Moury Fernandes |
Orientador(a): |
POZA, Jose Alberto Miranda |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Pernambuco
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Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pos Graduacao em Letras
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Brasil
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/50132
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Resumo: |
A interação melindrosa entre a narrativa ficcional e a narrativa historiográfica ainda constitui uma temática recorrente nas mesas de debate entre os teóricos. Por se estabelecerem como escritas que investigam o homem em dado contexto social, muitos estudiosos, críticos literários, historiadores e filósofos não resistiram à provocação de examiná-las, perfazendo, como consequência, uma espécie de comparação a fim de identificar e distinguir suas peculiaridades. Efetivamente, segundo as investigações de Luiz Costa Lima (2006), embora os discursos históricos e literários apresentem certas afinidades, por exemplo, vencer o intolerável filho do tempo, o esquecimento (lethe), as duas narrativas são inconciliáveis quanto à pretensão: a história se preocupa com a divulgação objetiva dos fatos; a literatura com a elaboração estética desses fatos em palavras acentuadas. Sendo assim, em termos de resultados, se poderia dizer que a história colhe os fatos, com a finalidade de verificá-los, a partir do exame minucioso de documentos, ao passo que a literatura reconfigura a representação do mundo, através da reformulação da realidade (LIMA, 2006). Contudo, as fronteiras entre os territórios da ficção e do fato se tornam nebulosas com a iniciativa do romance histórico. Conforme as perspectivas teóricas de Marina Acero (2006), durante o Romantismo, a historiografia e a novela se envolvem em uma espécie de contato conflituoso, dado que tanto uma como a outra se voltavam à análise dos comportamentos humanos e dos costumes sociais – entretanto, o romance parecia atuar como um recurso textual mais eficaz no conhecimento e no reconhecimento das condutas e condições dos homens do passado e do presente. E, é justamente nesse enlace sugestivo entre a escrita ficcional e o relato histórico, entre a realidade arquitetada linguisticamente e a realidade vivenciada, que a obra intitulada Confesiones de la monja alférez: la verdadera historia de Catalina de Erauso (2005) da escritora chilena, Juanita Gallardo, se encontra, uma vez que, em seu prefácio, já nos adverte de que se trata de uma obra que apresenta um jogo constante entre realidade e ficção. Com relação ao romance histórico mencionado, existe uma manifesta intertextualidade com o texto autobiográfico, intitulado Historia de la Monja Alférez, Catalina de Erauso, escrita por ella misma (2018), o qual se insere na narrativa por meio de citações em posições estratégicas, contribuindo com a verossimilhança da obra que pretende ser a verdadeira versão da trajetória de Catalina de Erauso. Por conseguinte, ao se relacionar com um relato autobiográfico de perspectiva múltipla, já que apresenta uma indeterminação não apenas quanto ao histórico e ao literário, mas também resguarda oscilações quanto às crônicas de viagem, a novela picaresca e o memorial de serviços; é oportuno observar como a disposição narrativa de uma vida instaura possibilidades e uma reordenação respectiva a essa vida, no sentido de colaborar com a ideia da encenação como um fator de plasticidade dos seres (ISER, 2013). Finalmente, contemplando a interação entre a realidade e a ficção na trama existencial de uma noviça-soldado, pertencente ao século XVII, se objetiva identificar o entrelaçamento (história-ficção) disponível não apenas no relato autobiográfico, mas também na versão romanceada desse relato, com a finalidade de investigar se a vida pode se configurar em matéria de fabulação. As teorias de Pozuelo (1993), Philippe Lejeune (2014), Bakhtin (2018), Calligaris (1998), Maravall (2009), Silva (1999) y Hatzfeld (1988) foram utilizadas quanto à cultura do Barroco, às características do gênero autobiográfico e à estruturação da novela histórica. Além disso, o presente trabalho também tematiza a trajetória de mulheres históricas que, à semelhança de Catalina de Erauso, foram hábeis com a pluma e as armas em distintos contextos históricos. |