A forma memorialística machadiana: o espectro da errata pensante em Dom Casmurro e em Memorial de Aires

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: COSTA, Marcia Danieli da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
UFPE
Brasil
Programa de Pos Graduacao em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/44528
Resumo: O presente trabalho analisa as bases literárias que compõem e particularizam a forma memorialística nas obras Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis, observando como nesses romances a memória é um dispositivo literário estruturante que dá continuidade e, ao mesmo tempo, renova o projeto mnemônico proposto por Machado em Memórias póstumas de Brás Cubas. Para isso, revisita-se o panteão literário que fundamentou a virada composicional do autor pós-1880, a saber: o shandismo que é uma tradição composta pela revitalização de um dos formatos literários mais antigos da literatura – a sátira menipeia. Sabe-se que, inicialmente, ela foi resgatada por Luciano de Samósata com sua tradição luciânica e que, posteriormente, influenciou Laurence Sterne, herdeiro direto da estética-estrutural que revolucionou sua escrita e a de Machado e, segundo Sergio Paulo Rouanet (2007), o principal responsável pela definição das categorias que atualmente se conhece como forma shandiana. Assim, com intuito de explorar tais extensões, este estudo ancorou-se, principalmente, no trabalho Riso e Melancolia: a forma shandiana em Sterne, Diderot, Xavier de Maistre, Almeida Garrett e Machado de Assis (2007), desenvolvido por Rouanet com a intenção de expandir as características shandianistas pontuadas em Memórias Póstumas, nas narrativas de Bento Santiago e na do conselheiro Aires, percebendo como esses, em suas condições de erratas pensantes, conseguem refuncionalizar essas propriedades, que, dentro legitimação da intenção autoral, se distancia em certos pontos das estabelecidas pelas linhas do defunto-autor. Com isso, observa-se como a memória incorpora, no olhar de Bentinho e de Aires, uma ferramenta transfiguradora, e até lírica, de cosmovisões que reificam a partir de uma contingência subjetiva caprichosa o tempo, o espaço e a textualidade na digressão e na fragmentação de um riso- melancólico que ironiza a linguagem das narrativas tradicionalmente construídas como cópias da realidade. Logo, o estudo angariado nessa dissertação, volta-se para os louros da tradição literária machadiana, buscando entender os pilares da maestria que sustentaram a produção casmurra e a diplomática de um dos escritores brasileiros que mais soube desvendar o homem e suas limitações.