“Uniformizados pela pele, travestidos pelo desejo”, a criação de um “novo mundo” a partir das orgias barebacking do “Rei Sol”

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: SANTOS, Francisco Gleidson Vieira dos
Orientador(a): CAMPOS, Roberta Bivar Carneiro
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/42325
Resumo: O foco central desta etnografia incide sobre as experiências afetivo-sexuais de homens soropositivos que fazem sexo entre si e são adeptos das orgias Barebacking. Ou seja, adeptos do sexo grupal, anal, intencionalmente realizado sem o uso do preservativo. Pertinente aos lugares e contextos onde as orgias são realizadas, privilegia as orgias barebacking do “Rei Sol”. As orgias são regularmente realizadas em um apartamento localizado no centro da cidade de São Paulo. Seus participantes são homens, maiores de 18 anos, portadores do vírus HIV. A tese em questão tem por objetivo compreender a constituição de novos laços sociais, engendrados pela experiência de se viver com o vírus HIV, o que, segundo os dados coletados em pesquisa de cunho eminentemente qualitativo, agencia novas possibilidades de relações afetivo-sexuais, forjadas no âmbito das orgias barebacking. Estas últimas, por sua vez, para além do prazer, forjam uma socialidade soropositiva que reverbera na produção do social, ou que se constitui per si, o social. Nesse sentido, embora as práticas sexuais orgiásticas tenham centralidade neste estudo, visto que é por meio delas que os sujeitos engendram o que eu chamo de novo mundo, o interesse não se restringe as práticas e performances sexuais. A experiência de se descobrir portadores do vírus HIV, compreendida aqui como evento crítico, apresenta-se aos sujeitos pesquisados como disruptiva, implicando em passagens essenciais na vida dos sujeitos, marcadas por rituais e performances sexuais. Teoricamente “impossibilitados” de estabelecer relações afetivo-sexuais com sujeitos não portadores do vírus, os informantes buscam relações igualitárias ou soroconcordantes. Assim, tendo como mote e âncora dessa socialidade orgiástica, o “segredo desvelado”, esses homens deparam-se com uma rede de homens adeptos das orgias, convencionalmente, chamadas de barebacking. A lógica que organiza os encontros sinaliza para uma ética ou para o que poderíamos chamar, com Foucault, de uma estilística das orgias barebacking, sustentada pelas categorias “nativas”: segredo, controle, cuidado, negociação e igualdade. Destarte, a potência do ritual, na medida em que as práticas sexuais constitui os laços entre os iguais, está em reestabelecer os laços sociais outrora rompidos, tanto no que refere as possibilidades de estabelecer relações afetivo-sexuais quanto a outros âmbitos da vida social.