Por debaixo dos panos : um estudo etnográfico com pacientes de fístula obstétrica no Hospital Central de Maputo – Moçambique

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: GUERRA, Lúcia Helena Barbosa
Orientador(a): SCOTT, Russell Parry
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Antropologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38766
Resumo: Em Moçambique, embora se observe uma redução da mortalidade materna de 1.300mortes/100mil nascimentos em 1990 para 480/100mil em 2012, ela ainda constitui um grave problema de saúde (Pathfinder, 2016). As altas taxas de mortalidade materna estão correlacionadas com a alta prevalência dos casos de Fístula Obstétrica. Estima-se que a cada mulher que morre na gravidez/parto, trinta sofrem de complicações agudas, são doenças crônicas ou incapacitantes (Bergstrom, 2002:16). De acordo com o Ministério da Saúde de Moçambique no ano de 2013 foram realizados cerca de um milhão de partos no país, dos quais surgiram pelo menos dois mil novos casos de Fístula. A Fístula Obstétrica consiste numa comunicação anormal entre a bexiga e a vagina decorrente da destruição dos tecidos da região pélvica por compressão da cabeça do feto durante o trabalho de parto. Causando perda constante de urina e/ou fezes pela vagina, destruição de órgãos do aparelho urinário e em alguns casos a impossibilidade de andar ou de ter filhos. Se não bastasse a dor física decorrente da doença, elas também sofrem com a culpa por perderem o filho, que geralmente morre durante o parto. Sendo abandonadas pelos maridos passam a viver como “deadwomenwalking”, isoladas devido ao odor fétido que exalam (Ahmed e Holtz, 2007). Com receio de serem rotuladas escondem esse segredo por debaixo dos panos amarrados na cintura, as capulanas. Outro aspecto relevante é que na sociedade moçambicana a construção social de gênero está baseada na submissão feminina. Esse contexto tem influência direta sobre a vulnerabilidade feminina durante o casamento, gestação e parto, e sobre as práticas preventivas à infecção do HIV e o uso de métodos contraceptivos. Destaca-se ainda a presença de práticas culturais arraigadas que também exercem influência sobre o parto, que tem de ser realizado em casa, por outra mulher e caso haja alguma intercorrência é porque a esposa foi infiel ao marido e está sendo castigada pelos espíritos. Esta pesquisa é uma etnografia da Fístula Obstétrica em Moçambique. Tendo como objetivo analisar, não tanto as questões biomédicas da doença, mas mais substancialmente com o desejo de compreendermos se, e em que medida, o ambiente hospitalar se constitui como um espaço social caracterizado pelas relações de poder e que reproduz as relações de gênero e o controle sob os corpos femininos presentes na sociedade moçambicana.