Entre pedras e paranóias: contribuições sociológicas sobre a categoria noiado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: COSTA, Julie Hanna de Souza Cruz e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
UFPE
Brasil
Programa de Pos Graduacao em Sociologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/33753
Resumo: No Brasil atual, o crack e seus usuários ocupam um lugar protagonista no imaginário social da população e no seu consequente debate publico. A centralidade desses fenômenos se dá, dentre outros motivos, por seus impactos associados à saúde coletiva, assim como à [des]ordem urbana. Nesse horizonte, a Sociologia, através de investigações qualitativas e quantitativas, tem proporcionado perspectivas e abordagens plurais que em muito enriquecem as discussões, contribuindo ainda à elaboração de políticas públicas dirigidas à população de usuários. Inserindo-se, assim, em tal seara interpretativa, meu trabalho teve como objetivo a interlocução com usuários de crack, a fim de compreender a forma como esses percebiam o universo simbólico do noiado – aquele usuário que, em um primeiro olhar, haveria descambado em um consumo percebido pelos demais enquanto abusivo. Nesta dissertação busco, então, apresentar os resultados dessa incursão etnográfica, feita em um Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-Ad) do Recife, entre fevereiro e abril de 2016, a partir de entrevistas semi-dirigidas, complementadas por observação participante e análise documental. Delineio, de início, um quadro analítico-descritivo sobre a categoria nativa – ao mesmo tempo que terminologia moral – do noiado para, logo após, associado àquele, expor uma descrição deste tipo-psicossocial. Tomando como pano de fundo a sociedade moderna tardia e sua moral [in]articulada assim como percebida por Charles Taylor e Jessé Souza, argumento, na esteira da antropóloga Taniele Rui, que o noiado é, mais do que apenas um corpo, um sujeito abjeto, gerador de repulsa e caracterizado por uma trajetória de exclusão e miséria moral. Paradoxalmente real e fantasmagórico, o noiado é ainda, apesar de alheio, espelho íntimo temido e indesejável de degradação pessoal. No mais e por fim, aponto o noiado enquanto categoria síntese e evidencio a sua centralidade no debate público atual, reconstruindo, para tanto, condições objetivas e subjetivas de produção e reprodução desse tipo de usuário de crack – descrito pelos demais enquanto extremo, abjeto, desprovido de todo e qualquer discernimento.