Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
CAVALCANTI, Ariane da Mota |
Orientador(a): |
ANDRADE, Brenda Carlos de |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de Pernambuco
|
Programa de Pós-Graduação: |
Programa de Pos Graduacao em Letras
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Brasil
|
Palavras-chave em Português: |
|
Link de acesso: |
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/44827
|
Resumo: |
A tese se detém ao estudo comparado das obras O caso Meursault (2013), do escritor e jornalista argelino Kamel Daoud e O estrangeiro (1942), de Albert Camus. Daoud realiza o que denomino de “tradução paródica pós-colonial” do clássico camusiano, de modo que o objetivo deste estudo é problematizar as possíveis ressignificações operadas pela ficção daoudiana frente ao texto francês quanto a dois aspectos centrais. O primeiro consiste na sua sugestão de uma revisão e suplementação da crítica tradicional em torno de O estrangeiro, pautada, principalmente, na leitura (praticamente unilateral) de que o romance seria um braço do pensamento filosófico de Camus, cujo conceito emblemático é o de “absurdo”, presente em O mito de Sísifo (1941), de modo que o romance argelino oferece também outro prisma de leitura da obra francesa pela “fresta” da questão de gênero, atrelada à de colonialidade do poder. O segundo aspecto, por sua vez, consiste nas ressignificações introduzidas por Daoud a respeito de pontos (que se fazem, aqui, balizas analíticas) como: as representações das alteridades árabes na narrativa, atravessadas pela conjuntura pós-colonial; as configurações redimensionadas do sagrado e da religiosidade islâmica; a tessitura das imagens geográficas da diegese como elementos de memória local; as representações de gênero na conjuntura ficcional argelina contemporânea. A pesquisa segue teoricamente o campo dos Estudos pós- coloniais, com destaque para o pensamento de Edward Said (1995), Stuart Hall (2003), Walter Mignolo (2008), Anibal Quijano (2005), Edgardo Lander (2005), Inocência Mata (2016), Maria Lugones (2008), bem como está alinhada com a noção de “paródia” na perspectiva da “poética do pós-modernismo”, da canadense Linha Hutcheon (1999) e com a categoria teórica de “tradução”, tal qual a entendem Eneida Souza (1993), João Alexandre Barbosa (2005) e Else Vieira (1992). O estudo está organizado em quatro capítulos. No primeiro, discuto as contribuições dos Estudos Pós-coloniais para a construção da análise desenvolvida; no segundo, apresento uma leitura sobre como a obra de Daoud ilumina pontos de revisão da tradição crítica em torno de O estrangeiro, setorizada particularmente em três nomes centrais: Sartre, Barthes e Edward Said; no terceiro, suplemento o campo crítico tradicional com uma releitura atualizada do romance camusiano, trazendo a problemática de gênero, a partir justamente dos contornos da ficção doudiana e seu crivo crítico face ao dialogismo que estabelece com clássico de Camus. Sigo, nessa pespectiva, a linha dos Estudos pós-coloniais (QUIJANO, 2005; LUGONES, 2008) e da crítica feminista, tal como a concebe Zinani (2015). No quarto e último capítulo, finalizo a abordagem da relação intertextual entre Daoud e Camus, focalizando a tradução paródica pós-colonial de O estrangeiro operada pelo escritor argelino, investigando as balizas analíticas acima listadas. Por fim, apresento as considerações finais, apontando a visão de mundo presente em O caso Meursault no campo literário periférico contemporâneo, não raro, atravessado por tensões insistentes entre Argélia e França, no que tange, sobretudo, à questão da imigração árabe e das representações do Islã. |