Entre a casca e o núcleo: a importância de um “outro” narrador para a estruturação do sujeito falante

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: FONSÊCA, Pedro Gabriel Bezerra da
Orientador(a): DE CONTI, Luciane
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Psicologia Cognitiva
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/27727
Resumo: A presente pesquisa trata sobre quadros de atraso no aparecimento da fala, dentre os quais o autismo é a sua expressão mais extrema, com o objetivo de analisar o discurso de mães de crianças com suspeita de autismo que chegam em uma instituição clínica, identificando a presença ou ausência de determinadas condutas narrativas maternas e se elas podem interferir no fornecimento de elementos necessários para a ocorrência da fala em crianças. Partimos da hipótese de que um discurso narrativo, que inclua a criança como personagem do mundo dos falantes, é elemento necessário para convidá-la ao exercício da fala. Nossa visão de cognição é aquela sugerida por Lev Vygotsky, a saber, uma cognição não natural, onde as aptidões mentais são transitivadas (mediadas) por um outro, usuário da língua e embaixador da cultura. Como contribuições da Psicanálise nos valemos da teoria freudiana com sua hipótese de um “isolamento autístico” como etapa constitutiva de toda criança que, no curso de sua estruturação, passaria pela experiência de estar encerrada dentro de uma metafórica casca de ovo protegida contra as exigentes demandas do meio. Consideramos também as contribuições de Jacques Lacan que, com seu conceito de “Outro”, sugere que um cuidador quebra a tal casca pelo estabelecimento de uma situação afetiva que empurra a cria pra fora do ovado invólucro supondo-lhe uma demanda expressa narrativamente. Nossos dados foram obtidos a partir de entrevistas com mães de crianças com mais de três anos de idade que portavam uma queixa (suspeita) de autismo e que não possuíam em sua história clínica surdez, lesões ou déficits que por si só respondessem pelo quadro de mutismo. As mães foram interpeladas na triagem de um CAPSi especializado na atenção a crianças com problemas de fala (mormente autismo e psicose). As falas das mães passaram pela Análise Proposicional do Discurso proposta por Laurence Bardin e encontramos excessivas referências das mães a tudo o que se colocava aquém da dupla (mãe e criança) como “apego”, “doença”, “culpa” e “investimento”. Encontramos destarte poucas referências a elementos externos, um isolamento notável do mundo dos falantes e uma precariedade narrativa no em torno imediato das crianças de quem se lhes supunha bem pouca coisa. Nossos achados nos permitem supor que a simples presença de condutas narrativas é insuficiente se tais condutas não forem para além das questões meramente materiais e relativas à sobrevivência da criança, sendo necessária, além da prestatividade nas demandas práticas, uma dimensão de reconhecimento de que a criança lhe faz uma demanda. Concluímos que quando um Outro testemunha o valor de mensagem das ações infantis (atribuindo-lhe sentido discursivo ao mínimo ruído) está criando uma linguagem particular, um dialeto de aceitação, uma primeira língua que convoca a criança ao uso da língua compartilhada, ao universo simbólico das trocas culturais e que embora não seja suficiente (visto que outros fatores podem ocorrer concomitantemente), tal situação se configura como necessária para que uma criança emerja à fala.