Processos autocíclicos e alocíclicos afetando os registros da paleoflora da foz do rio Jucuruçu, litoral sul da Bahia, durante os últimos 1000 anos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: MORAES, Caio Alves de lattes
Orientador(a): COHEN, Marcelo Cancela Lisboa lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
Departamento: Instituto de Geociências
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/10615
Resumo: Durante o Holoceno a história da vegetação no litoral sul da Bahia é caracterizada por fases de estabelecimento, expansão e contração de manguezais. Essa dinâmica da vegetação está relacionada principalmente às mudanças climáticas e às variações no nível relativo do mar. Entretanto, pontualmente e em escalas de tempo menores, por exemplo, durante os últimos 1000 anos, outros processos inerentes à dinâmica sedimentar do ambiente deposicional em questão, chamados processos autocíclicos, estão controlando a assembleia polínica ao longo de perfis estratigráficos formados por sequências de canais ativos seguidos pelo seu abandono. Com base na análise do tamanho das partículas de sedimentos, estruturas sedimentares, grãos de pólen, isótopos (δ13C, δ15N, C/N) e datação 14C de matéria orgânica sedimentar de dois testemunhos (PR-11 e PR-12) amostrados de um meandro abandonado e de uma planície de maré inseridos na foz de um vale fluvial próximo do litoral da cidade de Prado, no estado da Bahia, propõe-se um modelo para a evolução do canal de maré estudado juntamente com a vegetação de seu entorno. O testemunho de sedimento PR-11, com 1,48 metros de profundidade foi amostrado dentro de uma zona de manguezal, com idade máxima de 678 cal anos AP. O PR-12 foi coletado em uma zona de várzea distante aproximadamente 2,7 km da linha de costa atual com 1,92 metros de profundidade e idade máxima de 680 cal anos AP. Os dados revelam duas associações de fácies ao longo desses testemunhos: (A) Canal de maré, representada por depósitos arenosos maciços (fácies Sm), areia com estratificação cruzada (Scs) e acamamento heterolítico flaser (Hf); e (B) Planície de maré, representada pelas fácies acamamento heterolítico wavy (Hw), acamamento heterolítico lenticular (Hl) e um pequeno intervalo (5 cm) com areia maciça (Sm) e lama maciça (Mm). Os dados polínicos dos dois testemunhos sedimentares mostram que na associação de fácies (A), referentes à base dos perfis estratigráficos, há ausência de grãos de pólen de manguezais que pode ser consequência da intensa atividade do canal retrabalhando sedimentos de sua margem e depositando os sedimentos juntamente com os grãos de pólen oriundos de unidades de vegetação não necessariamente das proximidades do local de estudo. Já para o topo da sucessão, na associação de fácies (B), é possível identificar a implantação e expansão dos manguezais na recém formada planície de maré (PR-11) ou lago (PR-12). No caso do PR-12 este momento pode ser marcado pelo abandono do canal que resultou na formação de um lago com intenso acúmulo de lama, onde a interação descarga fluvial/maré diminuiu e propiciou o preenchimento com material sedimentar mais fino e de mais alto potencial de preservação orgânica que forneceu condições para o desenvolvimento dos manguezais e preservação polínica. No caso do PR-11, a migração natural do canal de maré causou o desenvolvimento de uma planície de maré que favoreceu a expansão do manguezal nesse local. Esses ambientes deposicionais, favoráveis à formação dos manguezais, podem ser parciais ou completamente modificados pela dinâmica natural dos canais de maré e canais estuarinos que estão sob influência das variações do aporte fluvial sedimentar na costa e dos processos de deriva litorânea ao longo da costa associados à ação das marés, ondas e correntes. Esses resultados foram comparados com os dados de um testemunho amostrado 23 km a montante do Rio Jucuruçu que também indicou a presença de manguezais sobre planície de maré com matéria orgânica estuarina durante o Holoceno inicial e médio, seguido de vegetação herbácea sobre uma planície fluvial com matéria orgânica oriunda de água doce durante o Holoceno tardio (Fontes, 2015). Nesse caso as flutuações do nível do mar e mudanças climáticas foram as principais forças controladoras da dinâmica dos pântanos na foz desse rio durante o Holoceno, assim caracterizando um processo halocíclico. Entretanto, considerando as sequências estratigráficas dos testemunhos analisados nesse trabalho de mestrado (PR-11 e PR-12), tais sucessões sedimentares associadas às mudanças na vegetação e fonte da matéria orgânica estão relacionadas aos processos naturais de preenchimento das depressões costeiras, marcados principalmente por fácies de canais ativos, canais abandonados e planícies de maré. Portanto, variações de curta escala de tempo na relação entre manguezais e demais vegetações associadas aos litorais não necessariamente estão diretamente ligadas às variações de nível do mar ou mesmo às mudanças climáticas (processos halocíclicos). Por outro lado, processos inerentes à dinâmica sedimentar do ambiente deposicional (processos autocíclicos) devem ter controlado principalmente a assembleia polínica ao longo dos perfis estratigráficos estudados.