Biopolíticas de saúde mental, poder disciplinar psiquiátrico e modos de subjetivação de professoras primárias internadas como loucas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: NASCIMENTO, Sérgio Bandeira do lattes
Orientador(a): CORRÊA, Paulo Sérgio de Almeida lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Instituto de Ciências da Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8374
Resumo: O objetivo central desta Tese doutoral consistiu em analisar como as professoras primárias internadas no Hospital Juliano Moreira no Pará foram subjetivadas como loucas a partir de relações de saber-poder instituídas naquele espaço institucionalizado para a loucura em nosso Estado. Especificamente almejou refletir sobre as perspectivas teórico-metodológicas que envolvem a produção da verdade sobre a temática da Loucura e sua constituição enquanto campo epistemológico da produção científica no Brasil; problematizar as relações de saber-poder que orientaram a produção da Loucura a partir da institucionalização do modelo hospitalar no HJM nos anos de 1964-1984; analisar como os discursos oficiais dos governos paraenses engendrados pelos mecanismos de poder da disciplina e da biopolítica constituíram as práticas de tratamento da loucura nessa unidade hospitalar; e analisar como as professoras primárias internadas nesse espaço psiquiátrico foram subjetivadas como loucas a partir das relações de saber-poder prescritas em seus prontuários médicos. Sob quais dispositivos, a temática relacionada à Loucura vem se constituindo enquanto campo epistemológico da produção científica no Brasil a partir das relações de saber-poder? Como as relações de saber-poder produziram os modos de subjetivação a partir dos discursos da Loucura no Hospital Juliano Moreira, no Pará, entre os anos de 1964-1984? Como os mecanismos de poder da disciplina e da biopolítica se constituíram nos discursos oficiais dos governos paraenses nesse período por meio da análise das práticas de tratamento da Loucura nessa instituição hospitalar? Como as professoras primárias internadas nesse espaço clínico foram subjetivadas enquanto loucas a partir das relações de saber-poder prescritas em seus prontuários médicos? Pesquisa histórico-educacional sob lastro teórico-metodológico da genealogia foucaultiana com aporte documental nos prontuários médicos do HJM, em Mensagens dos governadores paraenses, jornais, relatórios da SESPA, os Boletins do Centro de Estudos do Hospital Juliano Moreira que circularam entre os anos de 1967-1971 e da Revista Paraense de Psiquiatria editada em 1984. A tese considerou que no campo da educação, a loucura constitui temática de pouco interesse epistemológico, contudo, os estudos de Michel Foucault sobre as categorias analíticas saber, poder, disciplina, biopolítica, discurso e subjetivação são importantes instrumentos teóricos capazes de auxiliar na compreensão das biopolíticas de saúde mental engendradas pelo Estado do Pará por ocasião do funcionamento do Hospital Juliano Moreira, pois no interior dessa instituição havia confronto de paradigmas de tratamento dos sujeitos internados e seus discursos produzidos para o enquadramento das mulheres professoras primárias como loucas emergiram das relações de saber-poder advindas dos domínios da Medicina e seus correlatos, assim como da força operante da sociedade disciplinar atravessada pelas políticas oficiais governamentais, cuja capilaridade se estende de maneira prescritiva aos ciclos familiares que também contribuíram para a legitimação do processo de subjetivação dessas professoras como loucas. Concluiu-se que as professoras primárias internadas no Hospital Juliano Moreira tinham seus saberes também orientados por uma racionalidade técnico-cientifica, porém, plenamente preteridos ante as relações de saber-poder da psiquiatra, assim como as manifestações de resistências dessas mulheres-professoras quanto ao seu processo de subjetivação, despontavam como indícios de afirmação de sua loucura e não como estratégias de resistências ao controle de seus corpos, sem prescindir do atravessamento das questões de gênero e sexualidade, permeadas pelas normatividades e poder das famílias.