Fisiologia térmica e vulnerabilidade dos lagartos da Amazônia (Reptilia: Squamata) frente às mudanças climáticas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: URTIAGA, Luisa Maria Viegas Becerra lattes
Orientador(a): QUEIROZ, Helder Lima de lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Museu Paraense Emílio Goeldi
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Zoologia
Departamento: Instituto de Ciências Biológicas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8311
Resumo: É previsto que o aquecimento global leve a Terra a um aumento da temperatura de até 4.8°C até o final do século XXI, o que pode afetar negativamente distribuição das espécies de lagartos, considerando que são animais ectotérmicos e dependem diretamente da temperatura do ambiente para regularem a temperatura corporal (Tc). Estes animais geralmente apresentam como resposta compensatória ao estresse térmico a restrição do tempo de atividade em refúgios, para minimizar o risco de morte por superaquecimento. Acredita-se que a vulnerabilidade das espécies seja portanto inversamente proporcional à Tc e ao número de horas de restrição nos refúgios (Hr), e diretamente associada à temperatura máxima do ambiente (TMA), o que significa que qualquer lagarto, seja ele termoconformador ou heliotérmico, pode ser vulnerável às mudanças climáticas. Há pouca informação disponível na literatura em relação a biologia dos lagartos da Amazônia, apesar de ser a região mais biodiversa do mundo e abrigar cerca de 210 espécies de lagartos ao longo de sua extensão. Com isso, o primeiro capítulo do presente trabalho teve como objetivo sintetizar o conhecimento acerca da fisiologia térmica destes animais e incorporar dados inéditos de preferência térmica de algumas espécies, além de caracterizar o seu modo de termorregulação e recuperar as relações entre os caracteres. O segundo capítulo, por sua vez, analisa o status de persistência/ausência de 29 espécies de lagartos amazônicos, com projeções para 2050 e 2070, verificando se a sua vulnerabilidade está de fato associada à Tc, Hr e TMA. Quarenta e cinco estudos reportando Tcs de 62 espécies foram encontrados, e dados adicionais de Tc, bem como dados inéditos de preferência térmica, foram coletados em 13 localidades na Amazônia, abrangendo diversas fitofisionomias do bioma. Foram obtidos dados de temperatura preferencial (Tpref), temperaturas voluntárias mínima (Vtmin) e máxima (Vtmax) e zona de tolerância (críticos térmicos, Ctmin e Ctmax) para 33 espécies, e dados de performance (Tot) para 10 espécies. Tc, Tpref e Vtmin apresentaram sinal filogenético fraco (K<1), e todas as variáveis se correlacionam, exceto por 1) Tot, que não apresenta correlação com Ctmax e 2) Ctmin, que só se correlaciona com Tot. Embora apresentem diferenças estatisticamente significativas, heliotérmicos e termoconformadores apresentam características térmicas intercaladas na escala de valores, demonstrando um continuum entre os extremos dos modos de termorregulação. A utilização de um modelo de distribuição que combina dados ambientais e de fisiologia para calcular a distribuição potencial atual e futura das espécies, considerando um cenário de emissão de gás carbônico realista, permitiu a verificação do status de persistência/ausência de 29 espécies de lagartos amazônicos. Três delas, todas heliotérmicas, apresentaram um projeção de expansão territorial até 2070. Para as demais, foi prevista uma redução de área de ocorrência, com heliotérmicos apresentando, em média, menores Hr e maiores Tc que os termoconformadores. Não foi verificado um padrão de vulnerabilidade relacionado ao modo de termorregulação, e a maioria das espécies apresentou baixas Tcs e/ou Hr, concordando com a hipótese que relaciona vulnerabilidade à Tc, Hr e TMA. Foi feita ainda a modelagem de outras oito espécies, porem estas apresentaram resultados controversos nos cálculos de distribuição potencial e portanto não foram incluídas nas análises de vulnerabilidade. Tais espécies estão sendo avaliadas pelos desenvolvedores do modelo para eventuais ajustes. Por fim, caso as previsões se concretizem, as altas restrições de área recuperadas pelo modelo podem refletir um elevado risco de extinção das espécies. O resultado é preocupante mesmo considerando eventuais limitações do método, e reforça a necessidade de políticas conservativas que levem em consideração os efeitos das mudanças climáticas sobre a fauna, além de mais estudos visando ampliar nosso entendimento acerca das consequências do aquecimento global.