Resumo: |
A hipnose é uma reconhecida ferramenta terapêutica utilizada como coadjuvante de tratamentos médicos e combinada com intervenções cognitivo-comportamentais que ajuda no aumento do bem estar, reduz o estresse, e melhora as taxas de recuperação. Este estudo investigou o percurso da hipnose como objeto de estudo histórico e epistemológico no campo da saúde, e sua transformação em uma prática de saúde. O resgate histórico dessa disciplina ajudou a compreender como o processo de racionalização de práticas culturais do passado conduziu à descoberta dos efeitos da "sugestão" sobre a saúde. A utilização da "sugestão terapêutica" na medicina foi decisiva para a descoberta da hipnose, se tornando a primeira intervenção psicológica a obter reconhecimento científico. No primeiro momento deste trabalho, uma pesquisa bibliográfica esboçou o processo de legitimação da hipnose, marcado por conflitos e perseguições contra seus os aspectos subjetivos, na medida em que esses representavam uma afronta ao projeto das ciências modernas. No segundo momento, um estudo qualitativo analisou os relatos de sete professores de hipnose, tratando de questões, tais como: a função da hipnose como ferramenta terapêutica; as suas concepções epistemológicas; e os obstáculos para a difusão da hipnose como uma prática em saúde. Buscou-se compreender quais os fatores impedem a maior divulgação e aprendizado da hipnose por parte dos profissionais de saúde, além de se perseguir uma teoria da utilidade do uso da hipnose como meio para a promoção do bem estar e da saúde. Considerou-se que os profissionais entrevistados assumem que há ainda o predomínio de concepções míticas e místicas da hipnose, sobretudo na população em geral, enquanto que entre psicólogos e médicos as restrições conceituais mais comuns estão associadas às teorias psicanalítica e behaviorista. Os pesquisados mostraram ser influenciados por duas concepções distintas de hipnose: a clássica; e a ericksoniana. Estas concepções também influenciaram a compreensão dos objetivos clínicos da hipnose e o tempo mínimo de formação nesta área terapêutica. A carência de bibliografia de boa qualidade e de treinadores cientificamente capacitados para ensinar e pesquisar a hipnose no Brasil, foram apontados como os principais responsáveis pelas deficiências na formação nesta área da saúde. No campo da saúde coletiva, a hipnoterapia parece oferecer soluções para minimizar o distanciamento nas relações terapêuticas do modelo biomédico e promover a saúde sem recorrer aos sistemas médicos externos e não científicos. Sugerem-se novos estudos para ampliar a compreensão de outras variáveis relacionadas ao uso da hipnose na saúde coletiva. |
---|