Corpo-Natureza-Cultura Numa Várzea Amazônica: Um Estudo Das Experiências Vividas Por Ribeirinhos Com O Fenômeno Das Terras Caídas Em São Ciríaco Do Urucurituba/Santarém-Pa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: SANTOS, Aline da Paixão Prezotto
Orientador(a): BRASILEIRO, Tânia Suely Azevedo
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Oeste do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento
Departamento: Instituto de Biodiversidade e Florestas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufopa.edu.br/jspui/handle/123456789/356
Resumo: Esta tese doutoral objetiva compreender os significados e sentidos das experiências vividas pelos ribeirinhos da comunidade São Ciríaco do Urucurituba, em Santarém-Pará, na relação corpo-natureza-cultura ante a sazonalidade do rio Amazonas e o fenômeno das terras caídas. Como objetivos específicos, assumiu-se descrever as experiências vividas de corpos ribeirinhos com a sazonalidade e o fenômeno das terras caídas nesta comunidade de várzea, suas percepções e estratégias; analisar os significados e sentidos que levam seus moradores a permanecerem em um ambiente suscetível a mudanças sazonais, bem como aos riscos de danos materiais e imateriais decorrentes dos fenômenos das terras caídas. Perfilhou-se a pesquisa qualitativa, com base na fenomenologia, centrada na modalidade de análise da “estrutura do fenômeno situado”. A constituição dos dados ocorreu de dezembro de 2016 a julho de 2019, por meio da observação participante e das narrativas de quatro moradores, com suporte em entrevistas fenomenológicas. Os resultados revelam que as experiências vividas dos corpos ribeirinhos com a sazonalidade ocorrem no âmbito do cotidiano na agricultura, na pecuária, na criação de pequenos animais, no abastecimento de água e energia elétrica, no fenômeno das terras crescidas, na locomoção, com temporais, deslocamentos no rio, enchente grande, eventos extremos de cheia e seca e na relação com os animais selvagens que se aproximam das residências e são perigosos à saúde e à vida humana. O corpo perceptivo é também estesiológico, se revela nessas experiências vividas e se encontra numa dinâmica própria de funcionamento: que percebe e sente, então se movimenta, agindo estrategicamente diante das situações apresentadas; assente em mecanismos internos, ele constitui aprendizagens que se acumulam em formato de saberes e que lhes possibilita agir perante as circunstâncias. As produções dessa relação com a sazonalidade significam o acúmulo de saberes ecológicos com o “Mundo das Águas” que, em síntese, revelam o Modo de Vida dos ribeirinhos na Comunidade São Ciríaco, evidenciando o quiasma corpo-natureza-cultura. As experiências vividas com o fenômeno das terras caídas ressaltam também corpos perceptivos e estesiológicos, revelando faces visíveis e invisíveis do que os ribeirinhos veem, ouvem, sentem e fazem ao enfrentarem esse evento. Ele enseja consequências sociais, danos materiais, como: perda de casas, embarcações, áreas cultiváveis; e danos imateriais, com dimensão psicológica. Identificou-se o fato de que a sazonalidade revela um Modo de Vida com o “Mundo das Águas”, que reflete identidade e pertencimento dos ribeirinhos com a várzea. E o fenômeno das terras caídas, de outro, é o elemento ameaçador da perda do lugar e da identidade constituídas. A naturalização das vivências com a sazonalidade e o fenômeno das terras caídas é uma das razões de permanência de ribeirinhos nesse lugar de risco; além disso, a comunidade São Ciríaco ganha os sentidos de um lugar identitário, arraigado de laços afetivos com a família e amigos, que traz felicidade, orgulho, tranquilidade, oportunidade de sobrevivência, aquisição de bens materiais, escolarização, diversão, lazer, que preservam as reminiscências individuais da historicidade dos ribeirinhos com o “Mundo das Águas”, em suma, de toda uma vida constituída nesse lugar amazônico.