Das margens do rio ao interior do discurso: de ribeirinhos a sem rios

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2009
Autor(a) principal: Reginaldo, Neuraci Vasconcelos
Orientador(a): Nascimento, Celina Aparecida Garcia de Souza
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/1320
Resumo: O objetivo desta pesquisa é interpretar e problematizar os efeitos de sentido produzidos pelo acontecimento discursivo desapropriação dos ribeirinhos (oleiros, pescadores e agricultores), mais especificamente, interpretar as representações dos e sobre esses sujeitos, desvendar as relações de poder e investigar o confronto entre suas formações discursivas (FDs), no momento de saída do local de origem e posterior recolocação no assentamento “Nova Porto João André”, em Bataguassu-MS, em decorrência da construção da Usina “Engenheiro Sergio Motta”, localizada nas dependências do Porto Primavera, no rio Paraná, divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Como base teórica-metodológica, fundamentamos em Michel Pêcheux (1988, 1990), uma vez que funda os conceitos e procedimentos da corrente francesa da Análise do Discurso e no filósofo Michel Foucault (1996), por sua crítica dirigida às relações de poder-saber, exclusão e resistência. Para isso, selecionamos trechos de duas fitas VHS, a saber: “Os sem rios” e “Últimas imagens do Iate Clube Rio Verde e dos lugares mais próximos do Iate antes das águas subirem”, documentários que retratam a visão dos sujeitos ribeirinhos diante do processo de desapropriação, momento em que ocorre a formação do lago de Porto Primavera. Partimos do princípio de que o desenvolvimento capitalista promove uma assimetria nas relações sociais: de um lado, há aqueles que detêm o poder; de outro, os supostamente excluídos, dentre os quais, os ribeirinhos. A metodologia compreendeu as seguintes etapas: seleção e recorte dos enunciados do/sobre os ribeirinhos; organização de uma base de dados; agrupamentos dos enunciados de acordo com a seqüência dos dizeres relacionados ao acontecimento discursivo (desapropriação dos ribeirinhos). O trabalho encontra-se dividido em três capítulos: o primeiro, abrange conceitos mapeados na Análise do Discurso, conforme nossos objetivos; o segundo, relaciona as condições de produção, tomando a desapropriação dos ribeirinhos como um acontecimento discursivo e trazendo a historicidade do aproveitamento dos rios, da construção de hidrelétricas e dos impactos ambientais. No terceiro capítulo, procedemos à interpretação dos enunciados, organizados segundo a cronologia dos pronunciamentos dos ribeirinhos, narrador e lideranças em relação ao lugar de origem; à vida na barranca, o convívio com a natureza, à saída da barranca, aos processos de indenização, aos questionamentos sobre o silêncio em torno da formação do lago e do alagamento da região antes por eles habitada; e, por último, refletimos sobre as designações: de ribeirinhos a sem rios. Como resultado, verificamos que o sujeito discursa da posição de "excluído", todavia, nos embates ideológicos, motivados pelo acontecimento discursivo, desindentificou com a formação discursiva que o constituiu, passando a identificar-se com a posição sujeito de direito, daquele que reivindica para si e para outro, além da terra, mudanças na “forma de ser” do sistema capitalista. Seu discurso assumiu a forma de luta e resistência, dentre estas, a luta contra a exclusão, possibilitando a ascensão e o exercício do poder mediante a inscrição no universo discursivo o que, por sua vez, resultou num processo de reconstituição e reconfiguração desses sujeitos.